Uma lição de Natal

Chegar ao aeroporto foi, sem dúvida, uma aventura! Era dia 23 de dezembro e o trânsito estava caótico, o que só fazia aumentar a ansiedade que eu já sentia. A neve caía com intensidade lá fora e cobria tudo à minha volta, o que tornava o ambiente ainda mais tenso. A cidade, normalmente vibrante, parecia estar suspensa, presa entre a pressa e o frio cortante. O táxi avançava a passo de caracol, com as buzinas a soarem incessantemente. Eu já começava a desesperar. O relógio não parava de avançar, e eu pensava para mim mesma: "Porque é que não fui de metro?!"

A pressão aumentava a cada minuto que passava. O Natal, com a promessa de reunir a família, estava à vista, mas parecia um sonho distante. Eu sabia que, se não conseguisse chegar a tempo, seria muito díficil para mim de aceitar. Já me imaginava a ver a minha família pela câmara do telefone, em vez de estar com eles à mesa, a rir e a partilhar histórias.

Finalmente, o táxi parou no estacionamento do aeroporto. Não perdi tempo e, com as malas na mão, comecei a correr em direção à segurança. O ambiente estava frenético, as filas eram imensas, e o meu coração parecia estar a sair do peito de tão rápido que batia. Quando finalmente chegou a minha vez, senti um alívio enorme. Coloquei a mochila, o cachecol, o casaco e a mala no compartimento de verificação e passei pelo detetor de metais. Tudo ok! Mas ao procurar a minha mala, reparei que ela não estava onde a deixara. O pânico tomou conta de mim.

- "Oh não!" pensei. "Quanto mais pressa, mais devagar!"

Foi então que uma voz me interrompeu: “Menina, preciso que abra a mala e me mostre o que são esses tubos que leva aí dentro.”

- "Os tubos?" – perguntei, confusa.

Então lembrei-me. “Ah, os puzzles!” resmunguei para mim mesma. “Claro, os puzzles que comprei numa lojinha super fofa em frente a casa. Um é para fazer na noite de Natal e o outro é para oferecer ao meu irmão, com o mapa de Nova Iorque. Ambos adoramos fazer puzzles”, expliquei, enquanto abria a mala e mostrava os jogos.

A funcionária sorriu e disse: "Uau, que giros! E que ótima ideia. Na verdade, ainda preciso de comprar uma prenda de última hora. Vai ser um igual, com certeza!"

“Que bom, espero que a pessoa adore!” respondi, aliviada, mas já com a ansiedade a voltar. "Desculpe, mas preciso mesmo de ir, senão perco o meu voo."

Fechei rapidamente a mala e corri em direção aos ecrãs para ver a minha porta de embarque. Para minha surpresa, ao chegar lá, deparei-me com uma fila enorme. Havia muitas pessoas a cochichar, mas a grande maioria estava visivelmente impaciente e indignada. Achei estranho. A esta hora, já deveria estar tudo a bordo no avião. Decidi perguntar a uma senhora que estava à minha frente o que se passava.

- “Acabaram de nos informar que, devido à neve lá fora, o avião não pode partir até o tempo melhorar. Se em cinco horas não houver mudanças, o voo será cancelado"- disse ela, com um suspiro de frustração.

O chão parecia fugir-me debaixo dos pés. Não podia ser! Depois de todo o stress para chegar até aqui, ouvir aquela notícia foi como um balde de água fria. Além disso, fazia precisamente um ano que não via a minha família. O pensamento de passar o Natal sem eles fez-me perder completamente as forças. Sem que pudesse evitar, as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. A senhora, que parecia perceber a minha frustração, reparou no meu estado e, com um gesto carinhoso, envolveu-me num abraço acolhedor. "Não fiques assim, querida. Vamos ter fé, tudo vai correr bem. Eu também estou preocupada, mas temos que confiar que as coisas vão melhorar. Que tal irmos sentar-nos ali no café enquanto esperamos? Afinal, temos muito tempo."

Aceitei o seu convite, e fomos as duas para o café. Pedimos uma bebida quente e começámos a conversar um pouco. Mas, apesar de tentar manter uma conversa leve, a minha mente não parava de pensar no que podia acontecer. O medo de não conseguir embarcar para o Natal com a minha família era esmagador.

Foi então que a senhora, com um sorriso tranquilo, perguntou: "Este Natal vai ser especial para ti, não é?"

Eu acenei com a cabeça. "Sim, faz um ano que não os vejo. Estava a contar com este momento para me reconectar com todos. As saudades são tantas."

Ela suspirou, olhando para a sua chávena de chá. "Comigo acontece o mesmo. Este Natal vai ser o primeiro sem o meu marido. A vida dá-nos estes desafios, não é?"

Fiquei em silêncio, absorvendo as suas palavras. Senti uma conexão instantânea com aquela senhora, que, apesar de estar a enfrentar a sua própria dor, mostrava uma força admirável. Isso fez-me refletir sobre como o Natal é também um momento de reencontros e de superação. Pensei na minha família, nas saudades, mas também nas oportunidades de recomeço que a vida me oferece. Talvez o Natal não fosse apenas sobre estar fisicamente com quem amamos, mas também com os outros à nossa volta, sobre acolher as mudanças e a forma como nos adaptamos a elas.

Nesse momento, decidi que ia tentar aproveitar ao máximo o que restava do dia, independentemente do que acontecesse com o voo.

Olhei para a minha mala e, como se tivesse tido uma epifania, disse: "Acho que é hora de começar o puzzle! Aceitas o desafio? São 500 peças."

Ela sorriu e respondeu prontamente: "Claro que sim, vamos a isso!"

Começámos a espalhar as peças pela mesa e, em pouco tempo, a nossa conversa fluiu. Falávamos de tudo: da vida, dos sonhos, dos desafios. O puzzle, que deveria ser uma forma de me distrair, tornou-se um simbolismo da minha própria vida. Cada peça se encaixava, uma de cada vez, e apesar de demorarmos algum tempo, no final, o resultado era algo lindo e completo.

As horas passaram sem que nos apercebêssemos. Quando ouvimos pelo sistema de som: "Passageiros do voo com destino ao Porto, preparar para embarque!", senti um grande alívio. O voo iria sair! Como uma criança, corri para me despedir da senhora que, sem saber, tinha sido uma verdadeira fonte de calma e esperança para mim durante aquela espera.

Dei-lhe um abraço apertado. "Muito obrigada, sem a tua companhia, eu não teria conseguido suportar a ansiedade. Agora vou finalmente ver a minha família!"

Ela sorriu e desejou-me sorte, dizendo: "A vida é cheia de surpresas. Que o teu Natal seja tão belo quanto esse puzzle."

Enquanto me encaminhava para a porta de embarque, pensei em tudo o que acontecera. A neve, a espera, o nervosismo – tudo parecia ter um propósito. O Natal, com a sua magia, fez-me lembrar que, mesmo em tempos de incerteza, há sempre algo a aprender e a partilhar com os outros.

E assim, embarquei no voo com o coração cheio de gratidão, sabendo que a verdadeira magia do Natal estava em todos os momentos, até nos mais inesperados.

Como reagir perante as adversidades?

Reagir às adversidades de forma construtiva começa por aceitar a realidade, reconhecendo que todos enfrentamos desafios e que nem tudo está sob o nosso controlo. Manter a calma é essencial para evitar decisões impulsivas e permitir que surja a clareza mental. Em vez de nos focarmos no problema, é importante procurar soluções e questionar o que podemos fazer para melhorar a situação. Pedir apoio a amigos, familiares ou profissionais pode aliviar o peso e trazer novas perspetivas. Ao mesmo tempo, devemos cuidar de nós mesmos, mantendo uma boa alimentação, praticando exercício e descansando, pois, isso ajuda a reduzir o stress e melhora a nossa capacidade de lidar com as dificuldades. Focar nas coisas que podemos controlar e cultivar paciência e perseverança são fundamentais para enfrentar a adversidade de forma eficaz.

É igualmente importante ganhar uma perspetiva mais ampla e acreditar nas nossas próprias capacidades de resolução, lembrando que já superámos obstáculos no passado e que iremos enfrentar novas no futuro.

Reagir às adversidades não é fácil, mas a forma como enfrentamos os desafios pode definir como nos sentimos e o que aprendemos com eles. Ao aceitarmos a situação, mantermos a calma, focarmos nas soluções, procurarmos apoio e praticarmos o autocuidado, conseguimos superar até as adversidades mais difíceis. O mais importante é lembrar que, apesar dos momentos difíceis, somos capazes de crescer e aprender com eles e que, com paciência e perseverança, podemos ultrapassar qualquer obstáculo.

No final, as adversidades podem ser vistas como oportunidades de crescimento, e a forma como lidamos com elas pode fortalecer a nossa resiliência e o nosso interior.

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