Já ninguém escreve cartas de amor

Desliguei o telemóvel com uma sensação de coração apertado. Hoje faz precisamente quatro meses que vim morar para a Itália, mas sinto que parte de mim ficou em Portugal, com a minha namorada. Devo confessar que a pior parte de estar longe é não estar fisicamente com as pessoas que amamos nos momentos maus, mas o mesmo se adequa aos momentos bons.

Hoje é um dia muito importante na vida dela, é o dia em que “queima as fitas”, após tantos anos de esforço, dedicação, noites mal dormidas, pestanas caídas e muito café à mistura. Sinto-me muito feliz por ter tido o privilégio de acompanhar de perto esta aventura e um orgulho enorme de a ver agora colocar-lhe um ponto final.

Se estivesse lá, estaríamos agora a rir do colega que chegou atrasado após uma noite agitada no queimódromo, do tio que trouxe uma faca e um queijo e que já reservou um pedaço de relva para fazer um picnic enquanto espera que terminem as celebrações, ou estaríamos a contar quantas vezes a sobrinha dela lhe iria perguntar: “Já acabou?”

Depois pegávamos no carro e iriamos almoçar ao restaurante da prima que faz o melhor Bacalhau à Brás da cidade e lá ficaríamos a tarde toda, com a família reunida, a fazer planos do que vai ser daqui para a frente. Que saudades…

Contudo, apesar da distância física, tentei-me fazer presente neste dia acordando-a com um telefonema repleto de palavras que transmitiam o meu orgulho e amor por ela. Mas o sentimento de insuficiência tomava conta de mim, ela merecia muito, muito mais.

Decidi sair de casa para dar uma volta e espairecer a cabeça, afinal estava aqui por um propósito e em breve já estaria lá com ela, a contar-lhe todas as peripécias que passei por terras italianas. Após algumas voltas pelo bairro, reparei que as ruas se preenchiam de casais a passear de mãos dadas, a partilhar gelados, a trocar alegres gargalhadas. Como era bonito ver as pessoas felizes e a partilhar o amor que sentem umas pelas outras, de forma tão simples e espontânea.

Os meus pensamentos foram interrompidos por algo que caiu da carteira da rapariga que caminhava à minha frente. Quando me baixei para a ajudar a apanhar, deparei-me com um postal que continha uma rosa desenhada. Naquele momento, ecoou na minha cabeça a belíssima frase de Saint-Exupéry, no “Principezinho”: -“Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante”. Eu não podia deixar de me dedicar à minha rosa, ela é tão importante para mim!

Rapidamente, voltei a mim e apressei-me a devolver o postal à sua dona que me olhava com cara de quem estava confusa com a minha demora, mas eu ignorei e apenas lhe perguntei onde é que ela o arranjara e ela apontou para uma loja mesmo ao fundo da rua, do lado direito.

Ao entrar na loja, apercebi-me que todos os produtos tinham impregnado um estilo vintage, clássico e elegante. Comparei-os com o meu amor, que devido à sua beleza e delicadeza foi capaz de estabelecer conexões profundas através das memórias que carrega e por isso será imortal, pois perdurará no tempo.

Sentia o meu coração a palpitar de felicidade enquanto percorria os corredores até chegar à secção de papelaria. Para além dos postais, que vinham numa linda caixa metálica, também tinham bonitos set’s de papelaria, que incluíam oito postais com envelopes, oito cartões com envelopes e quatro folhas de autocolantes. Peguei logo na caixa que tinha o postal da rosa e num set de papelaria e dirigi-me à caixa para pagar, na ânsia de me sentar a escrever tudo o que me vinha no coração. Na caixa, uma amorosa senhora na casa dos 60 anos disse amavelmente:

- “A primeira carta de amor que recebi foi escrita num desses postais!” – era possível observar a nostalgia no seu olhar ao recordar-se desse momento, mas rapidamente a sua expressão facial fica rígida e continua – Mas hoje em dia já ninguém escreve cartas de amor.

- “Já ninguém escreve cartas de amor, mas eu escrevo. E espero que um dia a minha namorada conte a algum dos seus clientes, com o mesmo amor que a senhora, que a primeira carta de amor que recebeu, foi escrita neste postal.”   

“Se vieres, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu vou começar a sentir-me feliz. Quanto mais se aproximar a hora, tanto mais feliz eu me sentirei”. - Antoine de Saint- Exupéry in “O principezinho”

Por quê escrever postais?


Escrever postais é uma prática que pode parecer antiquada e até ultrapassada na era digital, no entanto continua a ter um propósito bastante atual e insubstituível. Selecionamos algumas razões, que consideramos pertinentes, para continuar a escrever postais:


Toque Pessoal:


Um postal escrito à mão carrega uma mensagem mais profunda, um toque pessoal que dificilmente é replicado pelas mensagens ou e-mails. Analisar a caligrafia, verificar a escolha dos motivos do postal e ler as palavras utilizadas mostram cuidado, carinho e consideração.


Recordação:


Os postais são objetos que podemos guardar como lembrança, recordando-nos de uma viagem, de um lugar, de um aniversário ou de um acontecimento especial. Carregam memórias e sentimentos que podemos facilmente aceder e até passar de geração em geração, contendo um valor sentimental incalculável. 


Momento de reflexão:


Escrever um postal permite-nos fazer reflexões importantes e colocar intenções para quem o vai receber. Este processo de pensar nas palavras que vai escrever e analisar como vai expressar os seus sentimentos pode ser uma experiência gratificante tanto para quem escreve quanto para quem recebe.


Arte e Cultura:


Muitas vezes os postais contemplam imagens de obras de arte, fotografias de paisagens ou pontos turísticos, e até mesmo ilustrações divertidas. Dessa forma, eles podem constituir uma excelente forma de compartilhar um pouco da cultura, essência e estética do lugar de onde foram enviados.


Conexão Emocional:


Receber um postal pode ter o poder de criar uma conexão emocional mais profunda. O facto de saber que alguém dedicou algum tempo para escolher, escrever e enviar um postal, faz com que o recetor se sinta especial e lembrado.


Surpresa Agradável:


Numa época onde a maioria das correspondências ou é digital ou estão relacionadas com contas e publicidade, receber um postal é uma agradável surpresa.


Os postais vintage da Cavallini contém esplêndidas ilustrações e são perfeitos para colocar em prática algumas das razões descritas acima para escrever um postal. No total, cada caixa traz 18 postais, de variados padrões, inseridos numa belíssima lata, que não descuram das habituais ilustrações da Cavallini.

Posto isto, deixamos-lhe o desafio de escolher o seu preferido e escrever uma carta de amor!

11 de junho de 2025
Entrei pela porta da frente, e logo o fresco do interior me envolveu. Fui direta à estante baixa junto à lareira. E lá estava ele, de onde nunca saiu: o tubo do puzzle.
4 de junho de 2025
Coloquei o meu avental, gasto, mas cheio de história, aquele que me acompanha desde que comecei a aprender a cozinhar, e que carrega as marcas de tantas receitas e momentos felizes.
28 de maio de 2025
Colei a nota aderente com cuidado dentro do meu livro favorito na altura: A Sombra do Vento, do Zafón. Um livro que já tinha lido três vezes e que sabia que não ia reler tão cedo. Foi o esconderijo perfeito. E assim passou o tempo.
21 de maio de 2025
Comprei também um conjunto de lápis, todo decorado com padrões florais, era como se cada lápis tivesse a sua própria personalidade. Dei um lápis a cada amigo e pedi-lhes para escreverem no papel uma mensagem para ela: algo bonito, algo sentido. E escreveram. Coisas mesmo sinceras.
14 de maio de 2025
Toquei à campainha, mas ninguém abriu. Pensei que já não vivesses lá. Fiquei lá parado uns minutos sem saber o que fazer, e lembrei-me do postal. Comprei um set de papelaria numa loja pequenina no sul de França, e escolhi este postal porque me fez lembrar de ti, os gatos, o estilo antigo...
7 de maio de 2025
Era antiga, de algodão, com um padrão floral que cheirava a primavera. Tinha pertencido à minha avó e, quando ma deu, disse-me: “Para que nunca te esqueças que as coisas simples são as mais bonitas.”
30 de abril de 2025
Já instalada na minha nova vida italiana, um dia estava a passear pelas ruelas do centro quando vi uma pequena loja de artigos vintage e entrei sem pensar. Lá dentro, numa prateleira de madeira envelhecida, vi um mini puzzle com uma ilustração vintage de várias borboletas.
23 de abril de 2025
Havia algo especial nela, dentro da sua mala, havia sempre uma bolsa, mas não uma qualquer, era vintage, de tecido encorpado, coberto por flores em tons antigos, como se tivesse sido arrancado de uma ilustração botânica de uma enciclopédia esquecida no sótão de uma casa senhorial.
16 de abril de 2025
Lá no fundo, vi a minha tote bag preferida, aquela que usava quando saía sozinha, antes de me moldar para agradar aos outros. Peguei nela, coloquei lá um livro que andava a adiar ler há meses, um caderno e uma caneta, os meus fones, toalha, protetor solar e alguma comida e fui até à praia.
9 de abril de 2025
Passei por uma papelaria na Baixa e, na montra, reparei num caderno com uma capa ilustrada com gatos. Havia qualquer coisa nele que me chamou. Entrei, determinada. “Posso ver aquele caderno dos gatos que está na montra?”, perguntei à funcionária. “Claro que sim!”, respondeu com um sorriso. “Esse é novo por aqui, mas a marca tem modelos lindíssimos. Quer que lhe mostre mais?”
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