Recordar é viver

Hoje acordei com uma vontade insaciável de comer um docinho. Estava na cama e parecia que conseguia sentir no meu quarto o cheiro do bolo de laranja que a minha avó fazia quando era pequena, mesmo acabadinho de sair do forno. Era exatamente isso que me apetecia, por isso, juntei o útil ao agradável e decidi fazer-lhe uma visitinha, quem sabe ela não me dá a receita do bolo ou até cozinhe um para mim.

O caminho até lá foi rápido, não apanhei nenhum trânsito, ainda chegaria a tempo de tomar o pequeno almoço com ela.

Ao chegar, coloquei a mão por dentro do portão para o destrancar e comecei a caminhar pelo jardim, em direção à porta. Fiquei uns minutos a contemplar aquele espaço. Era impressionante a dedicação que a minha avó tem pelas plantas, o amor com que as cuida era bastante visível e quase palpável.

Dirijo-me à porta e bato levemente para não a assustar. Uns segundos depois surge ela, por de trás da porta, toda alegre por me ver! – “Oh minha netinha, que surpresa tão boa, não estava nada a contar.” -diz enquanto me puxa para ela e me acolhe no seu abraço. Eu retribuo e aperta-a junto a mim, dando-lhe ainda dois beijinhos. - “Se eu soubesse que vinhas cá, tinha feito qualquer coisa para comeres. Estás mais magrinha, não estás?” – Diz ela enquanto me olha de cima abaixo e eu respondo – “Avó, acordei com vontade de comer aquele teu bolo de laranja que fazias quando era pequena! Não quero que o faças, mas se puderes partilhar comigo a receita”.

- “Oh, minha querida! Se eu soubesse tinha-to feito” - reclamou ela e prosseguiu – “Essa receita é muito especial para mim, foi a minha mãe que me passou e dura até hoje. Inclusive fiz esse bolo quando me casei com o teu avô, era também o preferido dele” - exclama enquanto se lembra do meu avô que já partiu há uns anos. Coloquei a minha mão por cima da dela, para que sentisse que estava ali para ela. Nesse momento ela dirige-se ao móvel que está na sala, repleto de loiça, e retira das gavetas debaixo uma tote bag e uma bolsa que estavam lá guardadas, e senta-se no sofá, fazendo-me sinal com a mão para me sentar junto dela. Eu obedeci. A tote bag tinha tudo a ver com ela, os desenhos de flores, vasos, regadores refletiam o seu gosto por jardinagem, tal como a bolsa que era preenchida por suculentas e cactos.

Abrir aquela Tote Bag era como abrir o diário secreto dela, lá estavam guardadas várias cartas, fotos, documentos, bilhetes entre outras coisas importantes para a minha avó. Senti-me especial e feliz por ela estar a compartilhar algo tão íntimo, como as suas recordações, comigo.

Ela começa por retirar um papel antigo, escrito à mão, e diz- “Pode parecer um papel velho, sem importância nenhuma, mas foi a primeira vez que o teu avô me escreveu, após nos conhecermos, num baile, em agosto de 1950.” - Peguei nele para ler e era percetível o valor emocional que aquele simples papel continha, precioso como um tesouro.

Nisto ela tira um bilhete e fica uns segundos a olhar para ele, depois, exclama: - “Nunca tinha ido ao cinema, não sabia sequer o que era isso. Um domingo o teu avô pegou em mim e levou-me a uma matiné para vermos o filme “Serenata à chuva” e eu fiquei totalmente rendida. Tanto que no mês seguinte adotamos um pequeno cachorrinho e pus-lhe o nome de “Don”, o nome da personagem do filme” – diz enquanto solta uma gargalhada. Nisto cai uma fotografia da Tote Bag e eu inclino para a apanhar, era uma foto do dia de casamento dela: - “Avó estavas tão linda” - digo ainda em absoluta admiração - “Oh filha, o trabalho que deu para fazer este vestido! A minha mãe começou por costurá-lo ao gosto dela e não ouvia as minhas sugestões. Um dia aproveitei que ela ia estar fora e levei-o a uma costureira que fez algo que estava mais na moda na altura. A minha mãe ficou tão chateada comigo, mas depois passou-lhe, eu deixei-lhe fazer uns bordados nas mangas” - e ri novamente! Como era rebelde a minha avó, pensei eu. Nisto ela diz: “Cá está a receita do bolo que querias” e passa-me para a mão um papel já amarelado e com respingos de massa de bolo. “-Avó, queres fazer o bolo comigo? É que eu não queria parar de ouvir as tuas histórias. Talvez pudesses continuar a contá-las enquanto cozinhamos e depois comemos o bolo juntas, o que achas?”.

- “Claro que sim! Sempre que recordo estes momentos, vivo mais um pouco! Afinal recordar é viver. Obrigada por me teres vindo visitar”

Importância de guardar recordações


O ato de guardar recordações através de objetos tem uma importância significativa na nossa vida, tanto a nível emocional como psicológico. As memórias e lembranças desempenham diversos papéis em nossas vidas, pois projetam-nos para momentos felizes e especiais, permitindo-nos revivê-los uma segunda ou terceira vez. Hoje enumeramos-lhe alguns dos motivos pelos quais é importante guardar recordações:


Conexão com o Passado:


As recordações ajudam-nos na construção da nossa identidade. Elas relembram-nos de onde viemos, para onde fomos e quem somos. Através de fotos, vídeos, cartas etc conseguimos preservar a nossa história, mantendo-a viva e revivendo-a sempre que quisermos.


Conforto e Felicidade:


As memórias de momentos felizes proporcionam-nos conforto e alegria, podendo-nos ajudar a superar momentos difíceis da nossa vida. Por outro lado, recordar momentos de superação pode dar-nos força e motivação para enfrentar novos desafios.


Relações Interpessoais:


Compartilhar lembranças e momentos com amigos e familiares fortalece o vínculo existente e cria uma sensação de pertença. Estando unidos por essas memórias, é possível aumentar a sua empatia e a compreensão mútua.


Crescimento Pessoal:


 Refletir sobre experiências passadas ajuda-nos a aprender, tanto no sucesso como no fracasso, contribuindo para o nosso fortalecimento e desenvolvimento pessoal. A introspeção, através das memórias, promove um melhor entendimento sobre nós próprios e as nossas emoções.


Criatividade e inspiração:


As lembranças e memórias podem servir como uma fonte de inspiração nas mais várias formas de arte, como a escrita ou a pintura.


Guarde as suas recordações mais preciosas numa bolsa ou tote bag da Cavallini, 100% algodão natural estruturado, ilustradas com as mais bonitas imagens dos arquivos Cavallini.

30 de julho de 2025
Quando me deitei, encontrei um postal debaixo da almofada. Era de um papel espesso, com um toque suave, como os de antigamente, com várias borboletas desenhadas em tons suaves de azul e dourado, quase a esvoaçar para fora da página. Tinha um aspeto antigo, mas lindíssimo, como se tivesse atravessado décadas só para me
23 de julho de 2025
Desfez o laço com uma curiosidade quase infantil e retirou um tubo redondo. Quando viu o que era, os olhos brilharam: um puzzle vintage, com uma ilustração delicada de flores silvestres, tudo em tons suaves e ligeiramente desbotados, como se o tempo tivesse passado por ele devagarinho. “É maravilhoso,” murmurou.
16 de julho de 2025
— Preciso que vás a casa. À gaveta da minha mesinha de cabeceira, do lado direito. Está lá uma bolsinha de pano, antiga… tem uns beija-flores desenhados. Traz-ma amanhã, sim?
9 de julho de 2025
Aquela tote bag que ele tinha preparado com tanto cuidado, carregava muito mais do que comida ou toalhas. Carregava o carinho dele, a paciência, a vontade de me fazer lembrar que nem todos os dias maus duram para sempre.
2 de julho de 2025
Numa tarde quente, depois de mais um dia a tentar afastar os pensamentos dos exames, a minha mãe veio fazer-me companhia no jardim, trazendo duas canecas com chá frio e sentou-se ao meu lado. Ficámos ali, no silêncio que só o verão sabe dar, enquanto eu passava os dedos pelos desenhos impressos na cerâmica.
26 de junho de 2025
Não era um caderno qualquer, este parecia saído de outra época: tinha a capa dura em tons de azul escuro, com um mapa do sistema solar desenhado na mesma, onde dava para ver as constelações e os planetas na sua órbita.
18 de junho de 2025
Estava sozinho na sala, de joelhos no tapete, com o coração quente e um sorriso que não me largava o rosto. Tinha acabado de abrir o presente que me deram pelo aniversário: um poster vintage com ilustrações de dinossauros. Daqueles à moda antiga, com nomes científicos e poses majestosas. Era bonito — não só esteticamente, mas porque me trazia de volta a um tempo que parecia distante, quando eu próprio era criança e vivia obcecado com estes gigantes do passado.
11 de junho de 2025
Entrei pela porta da frente, e logo o fresco do interior me envolveu. Fui direta à estante baixa junto à lareira. E lá estava ele, de onde nunca saiu: o tubo do puzzle.
4 de junho de 2025
Coloquei o meu avental, gasto, mas cheio de história, aquele que me acompanha desde que comecei a aprender a cozinhar, e que carrega as marcas de tantas receitas e momentos felizes.
28 de maio de 2025
Colei a nota aderente com cuidado dentro do meu livro favorito na altura: A Sombra do Vento, do Zafón. Um livro que já tinha lido três vezes e que sabia que não ia reler tão cedo. Foi o esconderijo perfeito. E assim passou o tempo.
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