Uma carta, uma para a outra.

Já não me lembro bem de quando foi a última vez que eu e a Inês passámos um fim de semana juntas. Lembro-me, isso sim, das muitas vezes em que dissemos “temos de combinar qualquer coisa” e depois a vida foi-se metendo pelo meio, o trabalho, a familia, o cansaço, as horas que fogem sem darmos por isso.
Quando ela me ligou numa terça-feira qualquer, a dizer “olha, reservei um sítio para nós duas, no fim de semana”, nem hesitei. Ri-me, claro, e perguntei se estava doida, mas por dentro senti aquele alívio de quem precisava de parar um bocadinho o relógio.
No sábado, metemo-nos no carro ainda meio ensonadas. Eu levei café num termo e um pacote de bolachas, ela trouxe a playlist de sempre, cheia de músicas que já não ouvíamos há anos. Entre canções, fomos pondo a conversa em dia, os dramas pequenos do trabalho, as coisas boas e as más, os silêncios que só duas pessoas que se conhecem há muito tempo conseguem partilhar sem desconforto.
A estrada abriu-se, e eu senti-me, pela primeira vez em muito tempo, leve. A Inês ria-se de tudo, da minha maneira de conduzir, das placas mal traduzidas, das nossas tentativas falhadas de cantar afinadas. Quando parámos numa bomba de gasolina para esticar as pernas, olhei para ela e pensei como é fácil gostar de alguém que nos conhece mesmo, sem esforço.
Chegámos à cidade ao fim da manhã. Era uma vila pequena junto ao mar, com ruas de calçada, janelas coloridas e o cheiro a maresia a entrar por todo o lado. Deixámos as malas na casa que alugámos e fomos logo explorar. Entrámos em lojas antigas, provámos bolos numa pastelaria com cortinas de renda e sentámo-nos a ver o mar bater nas rochas.
Falámos de tudo e de nada: de amores antigos, de medos novos, das coisas que nunca dizemos a ninguém porque achamos que já somos adultas demais para admitir.
À noite, jantámos num restaurante pequeno, cheio de luzes amareladas e gente a rir. Partilhámos um prato de massa e uma garrafa de vinho tinto, e rimo-nos tanto que o empregado acabou por rir connosco sem perceber porquê. Nesse instante, senti que voltávamos a ser as mesmas de quando tínhamos vinte ano, as mesmas miúdas que sonhavam alto e achavam que o mundo ia ser sempre nosso.
No domingo de manhã, a vila estava quase vazia. O céu cinzento e o cheiro a chuva prestes a cair deram-lhe um ar de despedida. Fomos dar um último passeio pela marginal e sentámo-nos num banco de jardim, cada uma com o seu café. A Inês abriu a mala, tirou um conjunto de papelaria, postais com desenhos delicados, envelopes brancos, canetas coloridas e sorriu.
— Tenho uma ideia — disse. — Vamos escrever uma à outra uma carta sobre este fim de semana. Mas não se pode ler agora. Só daqui a muitos anos.
— Quantos? — perguntei.
— Sei lá. Dez, talvez vinte. O que interessa é que fique guardado.
Achei graça. Ela sempre teve estas ideias bonitas. Peguei num
postal com florzinhas e comecei a escrever.
Foi estranho, no início. Não sabia bem o que dizer sem o poder dizer em voz alta, mas à medida que as palavras iam saindo, percebi que estava a escrever tudo aquilo que não tinha conseguido dizer durante o fim de semana: o quanto senti falta dela, o quanto me faz bem esta amizade, o quanto quero que, por mais que o tempo passe, continuemos a encontrar-nos — mesmo que seja só por dois dias.
Quando terminei o
postal meti-o no envelope e fechei-o com um pedaço de fita que ela me emprestou. Não quis reler nada.
A Inês também já tinha acabado. Trocámos os envelopes, como duas crianças a trocar prendas.
— Prometes não abrir? — perguntou ela.
— Prometo.
Guardámos os postais nas malas, e ficámos ali, a olhar para o mar, sem precisar de dizer mais nada.
A viagem de volta foi mais silenciosa. O rádio tocava baixinho e, de vez em quando, uma de nós sorria sem motivo.
À noite, em casa, abri a mala e vi a carta dela, coloquei-a num sítio onde não a visse, talvez numa gaveta, entre fotografias antigas.
E, antes de apagar a luz, pensei que, se calhar, é isso que fazemos uns pelos outros: deixamos pequenos pedaços de nós guardados, para que o futuro se lembre do que fomos.
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