Uma receita especial, no caderno.

Assim que bati à porta da casa da avó, ouvi as passinhos dela a caminhar até à porta e senti o cheiro familiar do seu cházinho de cidreira acabado de fazer. Ela sorriu-me com aquele jeito doce que sempre teve e convidou-me rapidamente a entrar, pois estava frio. Fomos para a sala, como sempre, onde reparei na coffee table que estava atolada de coisas: caderninhos, revistas de labores, um jornal dobrado e os óculos dela pousados em cima de tudo, como se tivessem caído ali por acaso. Rapidamente iniciamos uma agradável conversa: falamos sobre a escola, o frio que fazia lá fora, de como o tempo passava depressa, e inevitavelmente sobre o Natal, que se aproximava.
A avó suspirou, apoiando as mãos no colo.
“Olha, minha menina… tenho pena, sabes? Já não tenho forças nem disposição para cozinhar na consoada como fazia antigamente e gostava tanto. Sinto tanta falta de comer os doces da minha infância… A aletria, o arroz doce, os sonhos… e as rabanadas da minha mãe. Eram tão boas!”
Falou com uma saudade tão viva que quase a vi ali, mais nova, na cozinha da bisavó. Depois sorriu, cheia de brilho nos olhos.
“Mas este ano vou passar o Natal contigo! Estou tão entusiasmada, vais ver que vamos aproveitar cada minuto juntas. E vocês cozinham muito bem!”
“Eu lembro-me de tu falares dessas rabanadas…”, disse eu.
Ela sorriu ainda mais, um sorriso pequeno, mas cheio de lembranças.
“Ai, eram qualquer coisa. Ainda posso sentir o cheiro, o sabor… A minha mãe fazia-as como ninguém. E sabes uma coisa? Eu sei essa receita de cor”
Fez um pausa e depois disse entusiasmada: "Queres que eu a escreva para ti?”
“Quero!” respondi logo, sem pensar.
A avó estendeu a mão para a coffee table e puxou um dos caderninhos. Tinha uma capa lindíssima, com um desenho vintage, em tons suaves, de vários livros. Condizia tão bem com o momento que parecia até combinado. Pegou numa caneta, pousou o caderno no colo e começou a escrever. Eu fiquei a observar cada palavra da sua letra bonita e arredondada, sentindo que aquele ato tornava a receita ainda mais especial. Cada ingrediente, cada passo, cada truque secreto, o cuidado com que desenhava os acentos e as linhas. Eu ia dizendo “obrigada” de vez em quando, pois estava tão emocionada que não conseguia pensar em mais para dizer.
Quando terminou, passou-me o caderno com um sorriso satisfeito.
“Agora este caderno é teu, minha querida. Guarda bem a receita, porque um dia vais querer fazer as rabanadas da tua bisavó, aquelas que eu tanto amava."
A noite de Natal chegou num piscar de olhos. A casa da minha mãe encheu-se de luzes, vozes e risos, e a cozinha parecia uma pequena fábrica: panelas, travessas, bebidas e comidas pousadas por todo o lado. Quando a avó entrou, radiante e bem agasalhada contra o frio, exclamou:
“Estou tão feliz por estar aqui convosco! Mas que cheiro maravilhoso é este? Reconheço-o, mas não consigo perceber exatamente o que é!”
Antes que ela tentasse adivinhar, saí da cozinha com um prato nas mãos. As rabanadas estavam quentes, douradas, polvilhadas de açúcar e canela, exatamente como ela tinha escrito.
Corri para ela e abracei-a.
“Feliz Natal, avó! Isto é para ti. Dei o melhor de mim para que ficassem exatamente como te lembravas. Espero que gostes desta minha prenda.”
Ela olhou para o prato, depois para mim, e eu vi os olhos dela encherem-se de lágrimas — lágrimas bonitas, sentidas, cheias de sentimento.
“Minha querida...”, murmurou. “Esta é uma das melhores prendas que já recebi. Muito obrigada!”
Abracei-a outra vez, sentindo o cheiro das rabanadas misturado com o perfume dela. E percebi que, naquele momento, não era só a receita da bisavó que eu tinha trazido de volta, era um pedaço da infância da avó, da memória da família, do nosso Natal.
E no caderno vintage, bem guardado na minha mesa de cabeceira, iria permanecer para sempre esta receita especial. Era história. Era amor. Era o início de uma tradição que eu queria continuar.
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