No melhor pano cai a nódoa


Nunca gostei muito do refeitório do escritório, demasiado frio, demasiado branco, demasiado barulhento. Mas hoje, estava silencioso pois a maioria das pessoas saiu para almoçar fora, e eu, pela primeira vez em muito tempo, fiquei sozinha. Talvez por escolha, mas também por necessidade.

Coloquei o meu tupperware no micro-ondas e esperei pelo som estridente apitar enquanto me sentava a preparar a mesa à minha maneira, estendendo com cuidado a minha toalha de chá preferida. Era antiga, de algodão, com um padrão floral que cheirava a primavera. Tinha pertencido à minha avó e, quando ma deu, disse-me: “Para que nunca te esqueças que as coisas simples são as mais bonitas.” Essas palavras reconfortavam-me e davam-me alento nos dias menos bons, e hoje era, sem dúvida, um desses dias.

A comida girava lentamente no micro-ondas, contrastando com os meus pensamentos, que rodopiavam agitados. A cena da manhã repetia-se na minha cabeça como um filme mal editado. Um comentário infeliz da Alice, dito num tom ligeiramente mais alto, mesmo à frente da chefe. Levei aquilo como uma crítica implícita ao meu trabalho, algo que nunca tinha sido partilhado comigo anteriormente. E o pior? Era ela. Aquela que eu considerava a minha amiga ali dentro. A pessoa com quem partilhava as pausas para o café, a que me trouxe chá quando tive febre, a que me conhecia.

Senti aquilo como uma facada.

Ela já tinha tentado ligar, três vezes, e tinha deixado uma mensagem de voz: “Sei que soou mal, mas não era isso que eu queria dizer! Foi um mal-entendido. Vamos falar sobre isto! Desculpa-me”, dizia ela. Mas eu não queria ouvir. Ignorei tudo, como se o silêncio fosse um escudo que me protegesse da desilusão que senti e que ainda sinto.

O micro-ondas finalmente apitou. Peguei no tupperware e sentei-me. Estava quente demais, mas mesmo assim comecei a comer, já que a raiva dava-me fome. Bastou, no entanto, um gesto mais apressado e deixei cair um pedaço com molho de tomate mesmo em cima da toalha. Fiquei ali a olhar para a nódoa, incrédula. Uma mancha enorme, vermelha e intensa, caiu-me tão mal quanto um insulto. Naquela toalha? Naquela que eu cuidava com tanto carinho?

Peguei imediatamente em papel de cozinha, água, líquido da loiça e comecei a esfregar com toda a minha força, mas a nódoa estava cravada. Passado uns segundos, ao olhar para ela, percebi o que realmente me doía: aquela toalha, que sempre fora imaculada, agora estava manchada, tal como a minha  amizade com a Alice.

Olhei para o telefone e tinha mais uma notificação, mais uma tentativa dela, e eu, agarrada à toalha, à nódoa, à mágoa.

Mal cheguei a casa, coloquei a toalha a lavar com os melhores detergentes que tinha, aliviada por ser fim-de-semana e poder dar tempo ao tempo. Qual foi o meu espanto, quando, ao tirar a toalha da máquina, reparei que a mancha tinha desaparecido. A toalha estava intacta. Como nova. Como se nada tivesse acontecido.

Fiquei ali, parada, a segurar no tecido ainda húmido e macio, e senti qualquer coisa a amolecer dentro de mim. A nódoa desaparecera. Tão rapidamente quanto surgira. Não deixou marcas nem arruinou nada. Fez-me pensar que talvez tivesse exagerado e reagido muito a quente e que talvez tivesse a ser demasiado intransigente. Talvez... a nossa amizade também não estivesse perdida.

Peguei no telefone. Escrevi devagar:

"Desculpa ter desaparecido. Se ainda quiseres conversar, estou pronta para te ouvir."

Enviei.

E esperei, com a toalha dobrada no colo e o coração um pouco mais leve.


Toalhas de chá Cavallini


Embeleze a sua hora do chá ou qualquer outra refeição com as toalhas de chá Cavallini. Com padrões exclusivos provenientes dos arquivos da Cavallini, estas toalhas são a escolha perfeita para adicionar um toque de elegância e cor ao seu momento de chá. Cada toalha é feita de 100% algodão natural, proporcionando uma textura suave e agradável ao toque, ao mesmo tempo que é altamente absorvente.

O seu design inconfundível traz um charme vintage e único, tornando as suas refeições ainda mais especial. Estes padrões exclusivos não só enchem o ambiente de beleza, mas também conferem um estilo inconfundível à sua cozinha ou sala de estar.

Para além da estética, as toalhas são práticas e funcionais, com uma alça em sarja de algodão para pendurar facilmente. Vêm ainda embaladas num delicado saco de musselina com cordão, sendo a opção ideal para presentear ou para dar um toque de sofisticação à sua casa.

Depois de escolher o chá, o mais dificil será escolher a toalha


13 de agosto de 2025
Hoje, o caderno da Matilde está guardado na minha mesa de cabeceira. Às vezes abro-o, quando me sinto longe de mim. Quando esqueço quem fui naquele verão. E cada vez que o leio, lembro-me: fomos felizes ali.
6 de agosto de 2025
E, às vezes, ainda volto a abrir a caixa onde guardei as notas aderentes daquele verão. Só para me lembrar do que sou e do que a minha mãe me ensinou, com um gesto simples e um coração cheio.
30 de julho de 2025
Quando me deitei, encontrei um postal debaixo da almofada. Era de um papel espesso, com um toque suave, como os de antigamente, com várias borboletas desenhadas em tons suaves de azul e dourado, quase a esvoaçar para fora da página. Tinha um aspeto antigo, mas lindíssimo, como se tivesse atravessado décadas só para me
23 de julho de 2025
Desfez o laço com uma curiosidade quase infantil e retirou um tubo redondo. Quando viu o que era, os olhos brilharam: um puzzle vintage, com uma ilustração delicada de flores silvestres, tudo em tons suaves e ligeiramente desbotados, como se o tempo tivesse passado por ele devagarinho. “É maravilhoso,” murmurou.
16 de julho de 2025
— Preciso que vás a casa. À gaveta da minha mesinha de cabeceira, do lado direito. Está lá uma bolsinha de pano, antiga… tem uns beija-flores desenhados. Traz-ma amanhã, sim?
9 de julho de 2025
Aquela tote bag que ele tinha preparado com tanto cuidado, carregava muito mais do que comida ou toalhas. Carregava o carinho dele, a paciência, a vontade de me fazer lembrar que nem todos os dias maus duram para sempre.
2 de julho de 2025
Numa tarde quente, depois de mais um dia a tentar afastar os pensamentos dos exames, a minha mãe veio fazer-me companhia no jardim, trazendo duas canecas com chá frio e sentou-se ao meu lado. Ficámos ali, no silêncio que só o verão sabe dar, enquanto eu passava os dedos pelos desenhos impressos na cerâmica.
26 de junho de 2025
Não era um caderno qualquer, este parecia saído de outra época: tinha a capa dura em tons de azul escuro, com um mapa do sistema solar desenhado na mesma, onde dava para ver as constelações e os planetas na sua órbita.
18 de junho de 2025
Estava sozinho na sala, de joelhos no tapete, com o coração quente e um sorriso que não me largava o rosto. Tinha acabado de abrir o presente que me deram pelo aniversário: um poster vintage com ilustrações de dinossauros. Daqueles à moda antiga, com nomes científicos e poses majestosas. Era bonito — não só esteticamente, mas porque me trazia de volta a um tempo que parecia distante, quando eu próprio era criança e vivia obcecado com estes gigantes do passado.
11 de junho de 2025
Entrei pela porta da frente, e logo o fresco do interior me envolveu. Fui direta à estante baixa junto à lareira. E lá estava ele, de onde nunca saiu: o tubo do puzzle.
Show More