Tudo o que levo comigo

O dia tinha chegado. Sentada no banco do carro, sentia o peso das últimas semanas acumulado num misto de ansiedade e nostalgia. Era estranhamente melancólico pensar que seria a última vez que atravessaria aquelas portas como funcionária. Passei os dedos pelos papéis que trazia comigo, numa tentativa falhada de silenciar os pensamentos que insistiam em invadir a minha mente.

Peguei na chave da empresa, lembrando-me da primeira vez que a recebi, sentindo novamente o peso da responsabilidade que aquele pequeno objeto simbolizava. O meu caderno velho, preenchido de anotações das aventuras e desafios do dia-a-dia, agora parecia quase um livro de memórias. Decidi que este dia não seria de tristeza, mas sim de celebração e gratidão, para mim e para quem esteve ao meu lado nesta jornada.

Quando cheguei ao trabalho, uma calma invulgar tomou conta de mim. O espaço que antes parecia tão grandioso e intimidador era-me agora familiar. Caminhei pelos corredores devagar, cumprimentei algumas colegas pelo caminho e, com um sorriso tranquilo, pedi que se reunissem na sala de descanso. Era ali, onde tantas vezes rimos e partilhámos momentos descontraídos, que queria despedir-me.

Respirei fundo, sentindo o nervosismo diluir-se ao ver os rostos familiares à minha frente. Comecei:

"Lembro-me como se fosse hoje da primeira vez que comecei a trabalhar aqui. Mal tinha conseguido dormir na noite anterior, com a cabeça cheia de cenários do que poderia acontecer, do que diria, de como impressionaria. As poucas experiências profissionais que tinha tido antes não tinham sido as melhores, e o meu nervosismo refletia-se em cada passo hesitante que dava naquela manhã.

Ao entrar pela porta, senti-me perdida, paralisada por não saber para onde ir. Os corredores pareciam intermináveis, as portas fechadas guardavam mistérios, e nenhum rosto me era familiar. Foi nesse momento que vi a minha primeira salvação: uma colega que, com um sorriso amável e um olhar acolhedor, me tirou da incerteza e me guiou pela empresa. Com paciência, mostrou-me os espaços, apresentou-me aos colegas e fez-me sentir, pela primeira vez, que aquele lugar podia ser meu também.

Mas foram vocês, minhas colegas de departamento, que fizeram realmente a diferença. Lembro-me da forma como me acolheram, convidando-me para as pausas, incluindo-me nos almoços e estendendo a mão sempre que eu precisava. Cada gesto pequeno teve um impacto enorme. E como poderia esquecer da Maria, que, não só me deu a formação necessária, mas também me surpreendeu ao preparar o meu posto de trabalho com um gesto de carinho que nunca esquecerei. As flores e o postal de boas-vindas na minha mesa, que guardo até hoje, foram um sinal claro de que este não era apenas um emprego, era um lugar onde eu poderia crescer como profissional e como pessoa. Obrigada, Maria.

Hoje, ao olhar para trás, percebo a profundidade das conexões que criei aqui. Graças a cada uma de vocês, sou mais confiante, mais realizada e mais grata. Juntas, partilhámos momentos inesquecíveis: conquistas, celebrações, desafios e, sim, algumas adversidades. Em cada situação, o que prevaleceu foi a amizade e o espírito de equipa que nos uniu. Foi isso que nos fez superar tudo.

Ao despedir-me hoje, sinto que deixo um pedaço de mim aqui, no entanto levo algo ainda maior: as memórias, as aprendizagens e, acima de tudo, as relações que construí. Estas são insubstituíveis.

Amanhã iniciarei um novo desafio profissional, mas o que vivi aqui estará sempre comigo.

Quero agradecer, de coração, a todas e a cada uma de vocês, cada sorriso, cada palavra de encorajamento, cada momento que partilhámos é algo que levarei para sempre comigo.

E, para que a minha passagem por aqui não seja esquecida, deixo-vos agora também eu um postal, com uma mensagem personalizada para cada uma. Espero que este pequeno gesto sirva de lembrança do quanto significam para mim.

Muito obrigada! Sei que este não é um adeus, mas um até sempre. Desejo-vos tudo de melhor, hoje e sempre."


Ao terminar o discurso, levantei o olhar. Os rostos das minhas colegas estavam iluminados por sorrisos e por algumas lágrimas teimosas que brilhavam nos seus olhos. O ambiente ficou preenchido por um calor humano inigualável, enquanto abraços e palavras de carinho eram trocados.

Ao sair daquela sala, senti-me invadida por um sentimento de plenitude. Caminhei pelos corredores uma última vez e, quando cheguei à porta de entrada, parei por um instante. Olhei para o horizonte e, com um sorriso no rosto, pensei: "Que venham os próximos desafios, com tudo o que levo comigo deste lugar.”


Abraçar novos desafios profissionais


Abraçar novos desafios profissionais faz parte do percurso individual de cada um e pode ser visto como um ato de coragem e crescimento. É aceitar que o conforto do que já conhecemos, embora reconfortante, não pode ser o nosso limite. Cada vez que damos um passo para fora da nossa zona de conforto, oferecemo-nos a oportunidade de descobrir algo novo sobre o mundo e, principalmente, sobre nós mesmos.

Por vezes, novos desafios trazem consigo incertezas e medos: será que estaremos à altura? Será que tomamos a decisão certa? Mas, ao mesmo tempo, são estas questões que nos mantêm vivos, que nos empurram para melhorar, a aprender e a crescer. O novo sempre chega com a promessa de possibilidades infinitas, novas competências a adquirir, novas pessoas a conhecer, novas paixões a descobrir.

No fundo, podemos comparar abraçar um novo desafio profissional como um ato de autoconfiança. É confiar que temos os recursos internos necessários para enfrentar o desconhecido, mesmo que ainda não possuamos todas as respostas. É também um ato de fé no processo: acreditar que cada passo nos levará mais perto de algo significativo, mesmo que ainda não consigamos ver exatamente o que está à nossa espera.

E, além do desenvolvimento técnico ou das conquistas tangíveis, há algo mais profundo em jogo: o nosso propósito. Cada novo passo é uma oportunidade de alinhar o que fazemos com quem somos, de encontrar mais significado e de nos sentirmos mais conectados com o impacto que geramos. Um novo desafio não é apenas uma mudança de lugar ou de função, mas sim um movimento em direção ao que queremos construir para o nosso futuro.

Por isso, abraçar novos desafios exige que deixemos o medo de falhar para trás e nos concentremos na aprendizagem. Cada desafio pode ser encarado como uma ponte para o que ainda não somos, mas que podemos ser. Não se trata apenas do que deixamos, mas de tudo o que levamos connosco: as experiências, as conexões, os ensinamentos, e a certeza de que somos capazes de nos moldar continuamente.


30 de julho de 2025
Quando me deitei, encontrei um postal debaixo da almofada. Era de um papel espesso, com um toque suave, como os de antigamente, com várias borboletas desenhadas em tons suaves de azul e dourado, quase a esvoaçar para fora da página. Tinha um aspeto antigo, mas lindíssimo, como se tivesse atravessado décadas só para me
23 de julho de 2025
Desfez o laço com uma curiosidade quase infantil e retirou um tubo redondo. Quando viu o que era, os olhos brilharam: um puzzle vintage, com uma ilustração delicada de flores silvestres, tudo em tons suaves e ligeiramente desbotados, como se o tempo tivesse passado por ele devagarinho. “É maravilhoso,” murmurou.
16 de julho de 2025
— Preciso que vás a casa. À gaveta da minha mesinha de cabeceira, do lado direito. Está lá uma bolsinha de pano, antiga… tem uns beija-flores desenhados. Traz-ma amanhã, sim?
9 de julho de 2025
Aquela tote bag que ele tinha preparado com tanto cuidado, carregava muito mais do que comida ou toalhas. Carregava o carinho dele, a paciência, a vontade de me fazer lembrar que nem todos os dias maus duram para sempre.
2 de julho de 2025
Numa tarde quente, depois de mais um dia a tentar afastar os pensamentos dos exames, a minha mãe veio fazer-me companhia no jardim, trazendo duas canecas com chá frio e sentou-se ao meu lado. Ficámos ali, no silêncio que só o verão sabe dar, enquanto eu passava os dedos pelos desenhos impressos na cerâmica.
26 de junho de 2025
Não era um caderno qualquer, este parecia saído de outra época: tinha a capa dura em tons de azul escuro, com um mapa do sistema solar desenhado na mesma, onde dava para ver as constelações e os planetas na sua órbita.
18 de junho de 2025
Estava sozinho na sala, de joelhos no tapete, com o coração quente e um sorriso que não me largava o rosto. Tinha acabado de abrir o presente que me deram pelo aniversário: um poster vintage com ilustrações de dinossauros. Daqueles à moda antiga, com nomes científicos e poses majestosas. Era bonito — não só esteticamente, mas porque me trazia de volta a um tempo que parecia distante, quando eu próprio era criança e vivia obcecado com estes gigantes do passado.
11 de junho de 2025
Entrei pela porta da frente, e logo o fresco do interior me envolveu. Fui direta à estante baixa junto à lareira. E lá estava ele, de onde nunca saiu: o tubo do puzzle.
4 de junho de 2025
Coloquei o meu avental, gasto, mas cheio de história, aquele que me acompanha desde que comecei a aprender a cozinhar, e que carrega as marcas de tantas receitas e momentos felizes.
28 de maio de 2025
Colei a nota aderente com cuidado dentro do meu livro favorito na altura: A Sombra do Vento, do Zafón. Um livro que já tinha lido três vezes e que sabia que não ia reler tão cedo. Foi o esconderijo perfeito. E assim passou o tempo.
Show More