Disse que sim a um novo desafio!


Andava à procura de um hobby novo. Não sabia bem o quê, mas sentia que andava a procrastinar demasiado, a arrastar-me entre os dias num ciclo repetitivo de casa-trabalho-casa. Havia qualquer coisa em mim que começava a pedir mudança. Já não me reconhecia naquela rotina que, embora confortável, me estava a adormecer por dentro. Nunca fui pessoa de estar muito tempo parada, sempre gostei de ter algo que me estimulasse, sobretudo a mente. O trabalho administrativo das 9h às 18h já me chegava como dose de monotonia. Costuma dizer-se que é quando não procuramos que encontramos. Mas eu acredito que, quando estamos atentas e despertas, sabemos reconhecer o que faz sentido quando aparece, mesmo que surja disfarçado. E foi assim, num daqueles serões comuns- sofá, chá, telemóvel na mão e redes sociais em modo automático — que me deparei com uma partilha de uma conhecida. Um workshop de escrita criativa, já na semana seguinte. Fiquei intrigada. Sempre fui uma pessoa de números, organizada, lógica… talvez por isso mesmo, a escrita pudesse ser o desafio criativo de que precisava. Num impulso, daqueles que, se pensasse demasiado, deixaria escapar como tantas outras oportunidades, inscrevi-me. Recebi logo um e-mail com a confirmação e todas as informações. Senti um entusiasmo que já não me visitava há algum tempo. Estava a fazer algo por mim. No dia seguinte, decidi que precisava de um caderno especial, um que pudesse acolher aquelas palavras novas, aquelas histórias que (esperava eu) começariam a nascer. Passei por uma papelaria na Baixa e, na montra, reparei num caderno com uma capa ilustrada com gatos. Havia qualquer coisa nele que me chamou. Entrei, determinada.

“Posso ver aquele caderno dos gatos que está na montra?”, perguntei à funcionária.

“Claro que sim!”, respondeu com um sorriso. “Esse é novo por aqui, mas a marca tem modelos lindíssimos. Quer que lhe mostre mais?”

Assenti. E pronto… má decisão. Ou talvez não. A verdade é que me vi mergulhada num mar de cadernos incríveis, todos com aquele toque vintage, quase intemporal. Custou-me escolher, mas mantive-me fiel à primeira impressão, aquele com os gatos. Já me imaginava a escrever nele, como se fosse parte do ritual criativo que ia começar a construir.

Na véspera do workshop, mal consegui dormir. Sei que era uma atividade descontraída, pensada para ser leve e divertida, mas o nervosismo de conhecer pessoas novas e sair da rotina deixou-me inquieta. Sou naturalmente tímida, e tudo o que é novidade me faz hesitar. Mas também me conheço bem e, por isso mesmo, decidi não deixar que o medo mandasse mais que eu.

Eram 19h quando entrei no café onde ia decorrer o workshop. O espaço era acolhedor, com luz quente, estantes de livros e velas nas mesas, quase como um abrigo para ideias. Dirigi-me ao balcão e disse que vinha pelo workshop. A funcionária apontou para o fundo: “Pode sentar-se ali, está quase a começar.”

Sentei-me ao lado de uma rapariga morena, de caracóis soltos, que logo reparou no meu caderno. “Adoro esse caderno! É mesmo lindo.” Sorrimos. E ali se quebrou o gelo.

Minutos depois, chegou a facilitadora do workshop, uma mulher energética, com um brilho no olhar. Começámos com um jogo para nos conhecermos, e rapidamente o ambiente tornou-se leve, cúmplice. Depois lançou o primeiro desafio: entregou-nos uma imagem e pediu que escrevêssemos o que ela nos fazia sentir. Foi surpreendente ouvir as diferentes interpretações, cada um trazia a sua vivência, o seu olhar.

Durante a semana, fomos desafiados com exercícios como: “Descreve a vista da tua janela”, “Escreve uma carta para o teu ‘eu’ do futuro”, “Inspira-te na tua música preferida e cria um texto”.

A minha cabeça fervilhava de ideias. Dava por mim, à noite, ansiosa por saber o próximo desafio, curiosa por ouvir os textos dos colegas. Sentia-me viva, desperta, com aquela energia boa que nasce quando nos sentimos desafiadas, mas também acolhidas.

Foi uma semana de descoberta. Ganhámos confiança uns nos outros, rimos, emocionámo-nos. E eu percebi que a escrita não é só para quem quer escrever “grandes coisas”. É para quem quiser sentir, experimentar, inventar e para quem se atreve a olhar para dentro.

Hoje, estou sentada na relva do parque, com o meu caderno dos gatos ao colo. Relendo o que escrevi. Inspirada pelo som das folhas, o riso de crianças ao longe, o cheiro da primavera. E, como naquele primeiro dia, dou por mim a agradecer: por ter dito que sim, por não ter deixado que o medo decidisse por mim.

Ganhei novas amizades.

Ganhei um novo hobby.

Ganhei um novo pedaço de mim.


A importância de fazer coisas que gostamos

No meio da correria do dia a dia, das responsabilidades, das metas e dos horários, é fácil esquecermo-nos de uma coisa simples: fazer aquilo que nos dá prazer. Aquilo que nos alimenta por dentro, que nos faz sorrir sem razão, que nos devolve a sensação de estarmos verdadeiramente presentes na nossa própria vida.

Fazer coisas de que gostamos não é uma perda de tempo, nem uma futilidade, mas sim uma forma de equilíbrio, um gesto de cuidado connosco. Uma necessidade emocional que muitas vezes negligenciamos em nome da produtividade ou da rotina, mas a verdade é que ninguém aguenta viver sempre em modo automático.

Quando fazemos algo que gostamos, seja escrever, desenhar, dançar, caminhar, cozinhar, tocar um instrumento, plantar flores ou simplesmente estar em silêncio com um livro, estamos a criar espaço para respirar. Para sermos mais do que as nossas obrigações, para nos reconectarmos connosco.

São esses momentos que nos permitem recuperar energia, clarear ideias, aliviar o stress e, muitas vezes, até descobrir partes de nós que estavam adormecidas. Fazermos o que gostamos lembra-nos quem somos para além dos papéis que desempenhamos: profissionais, pais, filhos, amigos. Somos também seres criativos, curiosos, sensíveis e precisamos disso para nos sentirmos inteiros.

Infelizmente, crescemos muitas vezes com a ideia de que o tempo “útil” é aquele em que estamos a produzir algo “concreto”, por isso, acabamos por nos culpar quando dedicamos tempo ao que é leve, ao que parece “só” prazer. Mas é precisamente aí que mora a energia que nos sustenta.

Fazer o que gostamos é investir na nossa saúde mental e emocional, é construir pequenas âncoras de bem-estar que nos ajudam a atravessar os dias difíceis, é dizer a nós mesmos: “A minha vida também é para ser vivida, não apenas suportada.”

Por isso, mais do que procurar grandes paixões ou mudar radicalmente de vida, talvez o ponto de partida esteja nas pequenas coisas. Em reservar, intencionalmente, um tempo só nosso, em dar prioridade ao que nos faz bem. Porque quando cuidamos desse lado mais sensível e espontâneo, tudo o resto na nossa vida ganha mais cor, até os dias iguais de sempre.

Fazer o que gostamos é mais do que um prazer, é uma forma de nos lembrarmos de que merecemos sentir-nos vivos.



11 de junho de 2025
Entrei pela porta da frente, e logo o fresco do interior me envolveu. Fui direta à estante baixa junto à lareira. E lá estava ele, de onde nunca saiu: o tubo do puzzle.
4 de junho de 2025
Coloquei o meu avental, gasto, mas cheio de história, aquele que me acompanha desde que comecei a aprender a cozinhar, e que carrega as marcas de tantas receitas e momentos felizes.
28 de maio de 2025
Colei a nota aderente com cuidado dentro do meu livro favorito na altura: A Sombra do Vento, do Zafón. Um livro que já tinha lido três vezes e que sabia que não ia reler tão cedo. Foi o esconderijo perfeito. E assim passou o tempo.
21 de maio de 2025
Comprei também um conjunto de lápis, todo decorado com padrões florais, era como se cada lápis tivesse a sua própria personalidade. Dei um lápis a cada amigo e pedi-lhes para escreverem no papel uma mensagem para ela: algo bonito, algo sentido. E escreveram. Coisas mesmo sinceras.
14 de maio de 2025
Toquei à campainha, mas ninguém abriu. Pensei que já não vivesses lá. Fiquei lá parado uns minutos sem saber o que fazer, e lembrei-me do postal. Comprei um set de papelaria numa loja pequenina no sul de França, e escolhi este postal porque me fez lembrar de ti, os gatos, o estilo antigo...
7 de maio de 2025
Era antiga, de algodão, com um padrão floral que cheirava a primavera. Tinha pertencido à minha avó e, quando ma deu, disse-me: “Para que nunca te esqueças que as coisas simples são as mais bonitas.”
30 de abril de 2025
Já instalada na minha nova vida italiana, um dia estava a passear pelas ruelas do centro quando vi uma pequena loja de artigos vintage e entrei sem pensar. Lá dentro, numa prateleira de madeira envelhecida, vi um mini puzzle com uma ilustração vintage de várias borboletas.
23 de abril de 2025
Havia algo especial nela, dentro da sua mala, havia sempre uma bolsa, mas não uma qualquer, era vintage, de tecido encorpado, coberto por flores em tons antigos, como se tivesse sido arrancado de uma ilustração botânica de uma enciclopédia esquecida no sótão de uma casa senhorial.
16 de abril de 2025
Lá no fundo, vi a minha tote bag preferida, aquela que usava quando saía sozinha, antes de me moldar para agradar aos outros. Peguei nela, coloquei lá um livro que andava a adiar ler há meses, um caderno e uma caneta, os meus fones, toalha, protetor solar e alguma comida e fui até à praia.
22 de março de 2025
Decidi emoldurá-lo e dar-lhe o destaque que merecia, numa das paredes da casa! Enquanto o preparava, reparei que no verso havia algo escrito. As letras estavam ligeiramente desbotadas, como se tivessem sido impressas há décadas, mas ainda perfeitamente legíveis: "Momentos captados pelas câmaras perpetuam no tempo! Dentro do baú, há uma caixa repleta de memórias que nunca ficarão esquecidas."
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