Um encontro no jardim

Naquele dia, como em tantos outros, a manhã no escritório preenchia-se com a rotina habitual: as mesmas tarefas, as mesmas pessoas, as mesmas conversas. Ao fundo, o som frenético das teclas a serem pressionadas, o zumbido constante do ar condicionado e as vozes sussurradas dos meus colegas ao telefone criavam um ambiente monótono. A única coisa que me mantinha animada era a perspetiva da pausa para o almoço. Hoje, iria desfrutá-la no jardim em frente ao escritório. O sol brilhava, e eu trazia uma salada de feijão-frade caseira — simples, mas deliciosa — o que me deixava ansiosa por um momento de tranquilidade ao ar livre.

Quando finalmente chegou a tão aguardada hora de almoço, saí do escritório com a salada na mão e cruzei a rua em direção ao jardim. Os raios de sol tocavam a minha pele como uma carícia, e o ar fresco que inspirava enchia-me de uma sensação de renovação. Caminhei um pouco e logo encontrei um banco à sombra de uma árvore, tal como queria. Sentei-me ao lado de uma senhora que aparentava estar nos seus cinquenta anos, simplesmente a contemplar o lago em frente a nós. Trocámos um leve aceno de cabeça, num cumprimento silencioso, sem mais palavras.

Enquanto comia a minha salada, deixei-me levar pelos pensamentos, observando o vai e vem do jardim — as pessoas apressadas, as crianças que brincavam ao longe, o ocasional chilrear dos pássaros. Uns minutos depois, reparei que a senhora ao meu lado já tinha ido embora, sem que eu tivesse dado por isso. Contudo, deixou para trás uma tote bag de tecido robusto, decorada com um delicado padrão de borboletas, pousada no banco ao meu lado.

Olhei à volta, à procura dela, mas já não a consegui avistar. Fiquei uns momentos a pensar no que fazer. Devia esperar mais um pouco? O tempo no relógio avançava, e a pressão para regressar ao trabalho começava a pesar. Decidi, então, abrir a tote bag na esperança de encontrar algum documento que me permitisse identificar a sua dona, talvez um nome ou contacto. Para minha surpresa, não havia nada do género. Em vez disso, encontrei uma bolsa lindíssima, também com borboletas, que guardava no seu interior fotografias antigas, e um set de correspondência vintage de um estilo impecável. A delicadeza daqueles objetos despertou a minha curiosidade. Quem seria aquela mulher? Por que trazia consigo algo tão especial? Mais importante, como faria para lhe devolver aquilo? Não havia qualquer pista sobre a sua identidade, e ela desaparecera sem deixar rasto. Decidi levar a tote bag comigo e elaborei um plano simples: durante os dias seguintes, à mesma hora, voltaria ao banco onde nos sentámos, na esperança de que ela regressasse. Talvez fosse um lugar habitual para ela e, quem sabe, voltasse à procura da tote bag.

E assim fiz. Durante oito dias consecutivos, voltei ao mesmo banco, a tote bag sempre comigo, aguardando que a dona reaparecesse. Cada dia que passava aumentava a minha frustração, mas a esperança mantinha-me firme.

No nono dia, enquanto me preparava para mais uma espera, vi-a a aproximar-se lentamente. Lá estava ela, com o mesmo sorriso afável, caminhando em direção ao banco. O seu olhar encontrou o meu, e naquele instante tive a certeza que era ela. Levantei-me de imediato e, sem conter a ansiedade, perguntei:

“Por acaso não se esqueceu de uma tote bag, aqui, há uns dias?”

Os seus olhos brilharam de alívio e, com um sorriso emocionado, respondeu:

“Sim, esqueci-me... Nem imagina o quanto fiquei triste. A tote bag foi uma prenda da minha irmã, e além disso, lá dentro estavam fotografias da minha infância, memórias de casa, dos meus pais e da minha avó. Tem um valor incalculável para mim. Estava tão nervosa naquele dia, tinha de fazer um exame médico, e com a cabeça cheia nem me lembrei da tote bag. Quando cheguei a casa e percebi que a tinha perdido, chorei a noite inteira.”

O alívio nas suas palavras ecoou em mim, e sem hesitar, tirei a tote bag da minha mochila e entreguei-lha. Os seus olhos brilharam de gratidão.

“Hoje é mesmo o meu dia de sorte”, disse ela com um sorriso sincero. “Não só encontrei a minha tote bag, como o resultado do exame chegou e está tudo bem.”

Senti-me invadida por uma sensação de missão cumprida, muito feliz por te conseguido melhorar o dia àquela simpática senhora. Sem conhecermos mais do que os nossos rostos e nomes, naquele breve instante criámos um laço, partilhando algo que ultrapassava a simplicidade de um objeto perdido.

“Como forma de agradecimento, quero que fique com isto,” disse ela, tirando o set de correspondência da tote bag e entregando-mo. “Para que se lembre de mim e de como me fez feliz. Espero que escreva bonitas cartas e, quem sabe, uma delas seja para mim.”

Voltei ao escritório com uma leveza que não se consegue explicar. Às vezes, o destino tem formas curiosas de nos ligar a outras pessoas. E naquele dia, os nossos caminhos entrelaçaram-se, ainda que por um breve instante, deixando uma marca que eu sabia que iria perdurar.


Reflexão filosófica acerca das boas ações

 

Do ponto de vista filosófico, as boas ações têm sido tema de reflexão desde a Antiguidade, questionando o que significa "fazer o bem" e qual é a verdadeira natureza da moralidade. Uma das principais questões é se uma boa ação é definida pelos seus resultados ou pela intenção por trás dela.

As boas ações podem ser vistas como a expressão de virtudes morais, como a bondade, a generosidade e a justiça. No pensamento aristotélico, por exemplo, a prática dessas virtudes leva à eudaimonia — uma vida de realização plena e felicidade — que é o objetivo último da existência humana. Para Aristóteles, uma boa ação nasce de um caráter virtuoso, ou seja, não basta agir de forma correta; é necessário agir com a disposição correta, motivado pela virtude e não por um interesse pessoal ou material.

Por outro lado, Immanuel Kant enfatiza a ideia de que uma ação só é moralmente boa se for feita por dever, ou seja, porque a pessoa acredita que é o que deve ser feito, independentemente das consequências ou dos benefícios que possa trazer. Para Kant, o valor moral de uma boa ação reside na sua intenção pura e na adesão a um princípio universal de moralidade, o chamado imperativo categórico. Se uma ação é feita com um objetivo egoísta, por mais benéfica que seja para os outros, deixa de ser verdadeiramente "boa" no sentido moral.

Outra dimensão filosófica sobre boas ações é o debate entre altruísmo e egoísmo. Será que as boas ações podem ser inteiramente altruístas ou há sempre um elemento de interesse próprio? Filósofos como Thomas Hobbes acreditavam que, no fundo, todos os atos humanos são movidos pelo interesse próprio, mesmo aqueles que parecem altruístas. Quando ajudamos os outros, fazemo-lo para sentir-nos bem ou evitar a culpa, o que implica que há uma recompensa emocional para nós.

Por outro lado, filósofos como David Hume acreditavam que os seres humanos têm uma "simpatia natural" uns pelos outros, o que faz com que as boas ações sejam uma expressão genuína de empatia e compaixão, mesmo que não haja benefício direto para quem as pratica.

Por fim, é importante refletir sobre o relativismo moral, ou seja, a ideia de que o que é considerado uma boa ação pode variar de acordo com a cultura, a sociedade ou o contexto. Para alguns, uma ação que beneficia uma pessoa pode ser vista como prejudicial por outra. O filósofo Friedrich Nietzsche criticava o conceito tradicional de "bondade", sugerindo que muitas boas ações são, na verdade, uma forma de fraqueza ou de conformismo com normas sociais impostas. Esta perspetiva convida-nos a questionar se há realmente ações que são universalmente boas ou se tudo depende do contexto cultural e das normas estabelecidas.

No entanto, em todas essas perspetivas, há uma ideia central: as boas ações, quando praticadas com autenticidade, ajudam a construir um sentido de conexão, bem-estar e justiça no mundo.

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