Cartas em tempos de saudades


Meses se passaram desde o dia em que te vi pela última vez e que fui obrigada a despedir-me de ti. Apesar de sentir que uma parte de mim ficou incompleta com a tua ida, sinto que a marca que deixaste em mim, na mãe, na avó, te mantém vivo até ao dia da nossa partida.

Tento todos os dias visitar a avó, fazer-lhe um pouco de companhia, e tenho de ser sincera contigo - não está a ser fácil para ela aceitar a tua ausência. Mas como é que se vive depois de 54 anos de união? O teu lado da cama ainda permanece intacto, as tuas roupas no mesmo lugar do armário, a tua bengala atrás da porta da cozinha, o teu chapéu pendurado à entrada de casa, e, às vezes, parece que consigo ouvir a tua voz a chamar pelo Simba para lhe dares um pouco do teu almoço. 

Acredito que aos poucos tudo ficará mais fácil de aceitar e que ela irá sorrir de novo. Ontem ela abriu-se comigo pela primeira vez em meses e acho que foi terapêutico para ela, senti que no final estava paz. Será que foste tu a fazer das tuas?

Quando cheguei à vossa casa para a visitar a avó, deparei-me com ela a olhar para uma velha caixa que estava pousada no seu colo, enquanto as lágrimas lhe escorriam pelo rosto. Dentro estavam fotografias, cartas, bilhetes… memórias. Acolhia junto a mim por uns minutos, na tentativa do meu abraço aliviar um pouco a sua dor. Após uns minutos ela passa-me um envelope para mão e pede-me para o abrir. Da parte de fora estava escrito “Para a minha querida São”. Eu abri delicadamente o envelope, que já apresentava alguns sinais do tempo e retirei de lá um postal, estilo vintage, escrito à mão, em 1965, e comecei a ler:

"Minha querida São,

Escrevo-te à luz de uma velha lanterna, num acampamento improvisado, junto dos meus camaradas. Estou bem e com saúde, apenas com alguma tosse devido a um resfriado que apanhei. O calor aqui é muito intenso, mas o que realmente me aquece é a lembrança do teu sorriso, das tuas palavras doces e da certeza de que, um dia, estarei de volta aos teus braços. A distância entre nós é grande, mas o amor que sinto por ti é mais forte do que qualquer oceano que nos separe. Espero ansiosamente pelo dia em que poderei voltar a casa e construir a vida que sonhámos juntos…

Como estão os teus pais? Como correm os teus estudos? Tenho a certeza que serás uma ótima professora.

Guarda um espacinho para mim no teu coração até ao dia do meu regresso!

Cumprimentos à família e um respeitoso abraço,

Do teu Zé"

- “Estas cartas foram o fio que nos manteve ligados durante os anos mais difíceis. E, quando ele finalmente voltou, cumprimos todas as promessas que fizemos um ao outro. Construímos a nossa casa, criámos os nossos filhos, e tivemos uma vida cheia de amor, aventuras e desaventuras.” - expressou, finalmente, a avó.

Cartas como estas amontavam-se no meu colo, fiz questão de lhe as ler, uma por uma. A cada carta lida, uma lágrima de saudade derramada, mas uma certeza enorme que estás vivo no coração dela. Estas cartas que escreveste eram mais do que apenas pedaços de papel, eram testemunhos de um amor que tinha sobrevivido a todas as provações, um amor que moldou a vossa vida da avó. Cada palavra era um lembrete de que o amor que partilharam é eterno e que nem a morte é capaz de o cessar.

Sinto que aos poucos a avó foi encontrando paz, aceitando a tua partida sem deixar de se manter conectada a ti, sentindo uma gratidão profunda por tudo o que viveram e construíram juntos.

Obrigada por tudo, avô Zé!


Como lidar com a perda?

Lidar com a perda é uma das experiências mais difíceis que enfrentamos na vida, e o processo de luto é diferente de pessoa para pessoa e deve ser respeitado. No entanto, existem algumas formas que podem ajudar a enfrentar e a processar essa dor:


- Permitir-se sentir

É importante reconhecer e aceitar todas as emoções que surgem com a perda, sejam elas tristeza, raiva, culpa ou confusão. Não há um "certo" ou "errado" quando se trata de sentimentos, por isso, permitir-se vivê-los é fundamental para o processo de cura.


- Procurar apoio

Partilhar a dor com pessoas de confiança, como familiares, amigos ou terapeuta, pode ser muito reconfortante. Falar sobre a perda e expressar os sentimentos em voz alta ajuda a aliviar o peso emocional e a sentir-se menos sozinho.


- Recordar momentos passados

Recordar os momentos felizes, reavivar memórias, ou até mesmo prestar homenagem à pessoa que partiu, pode ajudar a manter a conexão e encontrar conforto.


- Dar tempo ao tempo

O luto não tem um prazo definido nem data de validade. Cada pessoa leva o seu tempo para se adaptar à perda. É crucial respeitar o seu próprio ritmo e não se apressar para "superar" a dor. Com o tempo, a dor tende a diminuir, permanecendo a lembrança.


Lidar com a perda é um processo contínuo, e embora a dor nunca desapareça completamente, aprender a viver com ela e a encontrar formas de honrar quem partiu pode trazer paz e conforto ao longo do tempo.

Caso necessite, procure ajude de um profissional que lhe dará ferramentas para que consiga lidar melhor com a situação.

30 de abril de 2025
Já instalada na minha nova vida italiana, um dia estava a passear pelas ruelas do centro quando vi uma pequena loja de artigos vintage e entrei sem pensar. Lá dentro, numa prateleira de madeira envelhecida, vi um mini puzzle com uma ilustração vintage de várias borboletas.
23 de abril de 2025
Havia algo especial nela, dentro da sua mala, havia sempre uma bolsa, mas não uma qualquer, era vintage, de tecido encorpado, coberto por flores em tons antigos, como se tivesse sido arrancado de uma ilustração botânica de uma enciclopédia esquecida no sótão de uma casa senhorial.
16 de abril de 2025
Lá no fundo, vi a minha tote bag preferida, aquela que usava quando saía sozinha, antes de me moldar para agradar aos outros. Peguei nela, coloquei lá um livro que andava a adiar ler há meses, um caderno e uma caneta, os meus fones, toalha, protetor solar e alguma comida e fui até à praia.
9 de abril de 2025
Passei por uma papelaria na Baixa e, na montra, reparei num caderno com uma capa ilustrada com gatos. Havia qualquer coisa nele que me chamou. Entrei, determinada. “Posso ver aquele caderno dos gatos que está na montra?”, perguntei à funcionária. “Claro que sim!”, respondeu com um sorriso. “Esse é novo por aqui, mas a marca tem modelos lindíssimos. Quer que lhe mostre mais?”
22 de março de 2025
Decidi emoldurá-lo e dar-lhe o destaque que merecia, numa das paredes da casa! Enquanto o preparava, reparei que no verso havia algo escrito. As letras estavam ligeiramente desbotadas, como se tivessem sido impressas há décadas, mas ainda perfeitamente legíveis: "Momentos captados pelas câmaras perpetuam no tempo! Dentro do baú, há uma caixa repleta de memórias que nunca ficarão esquecidas."
19 de março de 2025
Na cozinha, o meu pai reina. Adora cozinhar e experimenta receitas novas com o entusiasmo de um chef Michelin. Usa sempre um avental com cogumelos que lhe ofereci no aniversário, numa loja de artigo vintage, como ele.
5 de março de 2025
Descobri que às vezes, a felicidade está nos gestos simples. E que, de certa forma, todos estamos a tentar montar o puzzle da nossa própria vida — uma peça de cada vez, contudo quando o fazemos acompanhados, o caminho torna-se mais leve, e as imagens, mais bonitas.
26 de fevereiro de 2025
Rasguei o canto do envelope com cuidado, puxando o seu interior para fora. Um lápis caiu para o chão, antigo, com a madeira gasta e a ponta arredondada. Peguei nele e virei-o devagar. Na lateral, o nome "Beatriz" estava escrito a caneta, as letras quase apagadas pelo uso.
Postais de S. Valentim da Cavallini
12 de fevereiro de 2025
Desde pequena que sempre gostei de guardar e colecionar pequenas coisas, desde pedaços de papel, fotografias, bilhetes de cinema, conchas apanhadas na praia, a cartas nunca enviadas.
Flores e bloco de notas aderentes com flores da Cavallini
5 de fevereiro de 2025
Agora é o momento certo! Já há alguns dias que parecia que nada corria bem. O cansaço acumulado pesava-me nos ombros, e a sensação de impotência começava a sufocar-me.
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