De Volta à Sala de Aula

Abri o velho álbum de fotografias que estava guardado na estante da sala, coberto por uma fina camada de pó que se soltou com o toque dos dedos. Folheei cada página devagar, quase com receio de estragar aquelas memórias tão frágeis, e fui transportada imediatamente para um tempo que já parecia esquecido, a minha escola primária. Ali estava eu, de bata branca, com o cabelo encaracolado e um sorriso meio envergonhado, rodeado pelos colegas com quem partilhei as minhas primeiras aventuras, as primeiras travessuras e, claro, os primeiros aprendizados.
As fotografias estavam gastas pelo tempo, com cores ligeiramente desbotadas, mas os detalhes permaneciam: os sorrisos, os olhares curiosos, as mãos sujas de tinta. Senti um aperto doce no coração ao recordar a simplicidade daqueles dias. A maior preocupação era decorar a tabuada, acertar no ditado ou descobrir qual seria a brincadeira depois do recreio. Consegui sentir o cheiro peculiar da escola, uma mistura de madeira encerada, giz e o aroma inconfundível dos lápis e cadernos novos. Quase conseguia ouvir o ranger das cadeiras de madeira quando nos levantávamos para ir ao quadro e o barulho abafado dos passos apressados quando era a hora do recreio.
As salas eram pequenas, mas acolhedoras. Cada uma tinha uma decoração diferente, feita por mãos de alunos e professores: cartazes coloridos com desenhos de animais, mapas feitos à mão, pequenas colagens de recortes de jornais, pinturas e até maquetes de papelão das casas ou monumentos da cidade. Lembrei-me das festas que fazíamos, das cantigas ensaiadas para o Natal, dos pequenos espetáculos de Carnaval, quando nos fantasiávamos com roupas improvisadas. Houve também a festa de fim de ano, quando os pais vinham ver-nos atuar e a alegria das férias se misturava com a saudade antecipada de deixar aquela rotina diária.
Enquanto folheava o álbum, vi fotografias de momentos que me pareceram pequenos tesouros: uma tarde chuvosa em que jogámos jogos dentro da sala; o grupo todo à volta de um bolo de aniversário, com velas tremeluzentes; um passeio de estudo no parque, onde corremos sem regras e voltámos sujos e cansados.
E então, de repente, senti uma nostalgia tão forte que decidi que, na próxima vez que fosse à minha terra natal, visitaria a escola. Queria sentir novamente aquele lugar, ver como teria mudado e, se possível, rever a professora que tinha feito parte da minha vida naquela fase tão determinante.
Dias depois, cumpri a promessa. Ao chegar, encontrei um edifício renovado. As paredes estavam reforçadas e pintadas de fresco, os portões tinham ar moderno, as janelas eram maiores e havia uma rampa nova que tornava a entrada mais acessível. Tudo parecia diferente, mas, ao atravessar o corredor principal, senti que algo permanecia. E então a vi: a minha antiga professora. Já não era a jovem de vinte e cinco anos que me ensinou as primeiras letras, mas uma mulher de cinquenta, com cabelos grisalhos e um olhar doce e sereno que, de algum modo, me fez sentir que o tempo não tinha passado tanto assim.
Conversámos, partilhámos histórias e risos, e eu contei-lhe como o álbum de fotografias tinha trazido de volta todas aquelas memórias. Levei-a comigo até à antiga sala de aula. Tudo estava modernizado — carteiras novas, quadros digitais, cores suaves nas paredes — mas então reparei num detalhe que me fez sorrir: na parede, ainda estava o velho póster com o alfabeto. Quantas vezes, em criança, olhei para aquelas letras, tentando memorizá-las, imaginando as palavras que poderia formar? Quantas vezes, com a testa franzida e a língua de fora, repeti o “C” e o “G”, até que finalmente fizesse sentido?
Fiquei ali, parada, a contemplar cada letra, sentindo o coração aquecer. Era como se aquele simples póster fosse uma ponte para o meu passado, para a criança que eu fora, cheia de curiosidade e entusiasmo, sem preocupações para além do recreio e da próxima história que a professora ia ler-nos em voz alta. Pedi à professora para tirarmos uma fotografia juntas, ali mesmo, ao lado do póster. Quando mais tarde regressei a casa, coloquei essa nova fotografia no álbum, ao lado das antigas. Olhei para ele com satisfação e pensei: agora sim, está completo.
Ao fechar o álbum, senti uma gratidão profunda. Não apenas pelo passado que vivi, mas pelo presente que me permitiu revisitá-lo.
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