Dias de repouso e escrita!


O meu coração apertava-se cada vez que olhava para o meu filho de sete anos, deitado na cama do hospital. Não era nada grave, apenas uma reação alérgica a uma picada de inseto que o deixou inchado e com o corpo cheio de pequenas manchas vermelhas. Estava medicado, estável, mas os médicos decidiram que era melhor observá-lo durante alguns dias. Ele estava aborrecido, inquieto, e eu sabia que precisava de algo para ocupar a mente e afastar o medo das seringas e das visitas do enfermeiro.

Enquanto segurava a sua mão, senti uma memória a surgir na minha cabeça: eu própria, com a idade dele, estivera internada alguns dias. Uma gripe forte obrigara-me a ficar no hospital, e lembro-me de como o tédio me consumia. Mas a minha mãe trouxera-me um caderno. Um caderno que eu amei, de capa rígida, com umas cores meio desbotadas que hoje chamaria de “vintage”. Nele, eu escrevia tudo: como era o meu dia, as conversas engraçadas com os enfermeiros, os desenhos das plantas que via pela janela e até listas dos meus músicos favoritos, organizados por ordem de preferência. A cada página, o tempo parecia menos longo, e sentia-me menos sozinha.

Decidi que o meu filho precisava do mesmo. No dia seguinte, fui a casa e procurei no sótão até encontrar o velho caderno. Ao abrir a capa, senti uma onda de nostalgia misturada com emoção. Algumas páginas tinham manchas de chá ou do lápis de cor que eu usara, mas tudo ainda estava muito bem conservado. Levei-o ao hospital e sentei-me ao lado da cama do meu filho.

“Olha só o que trouxe”, disse, mostrando-lhe o caderno. Os seus olhos brilharam. Abri uma página aleatória e comecei a ler algumas entradas: falava de pequenos jogos que inventava com os enfermeiros, das conversas engraçadas sobre comida, das listas de músicas — e das anedotas que me faziam rir sozinha. Ele ria-se sem parar, algumas vezes a bater palmas, outras vezes a apontar desenhos e a perguntar: “Mãe, tu fizeste mesmo isto?”

Passei a tarde a folhear o caderno com ele, lendo e comentando as histórias. Depois, percebi que ainda havia muitas páginas em branco. Sorri e disse: “Sabes o que é? Agora é a tua vez. Podes escrever, desenhar, inventar jogos… tudo o que quiseres. Este caderno é teu enquanto estiveres aqui.”

Ele pegou no lápis como se tivesse encontrado um tesouro. Começou por desenhar monstros coloridos, depois inventou uma história sobre um dragão que vivia dentro do hospital e só aparecia quando as crianças estivessem a brincar. Passou horas entretido, e eu ficava sentada ao lado, a ver a sua criatividade ganhar vida. Cada página preenchida era um mundo novo, e ele ria-se tanto que os enfermeiros também acabavam por sorrir.

Durante aqueles dias, o caderno tornou-se o nosso refúgio. Contava histórias sobre nós, sobre o hospital, sobre os nossos pequenos rituais: a visita da enfermeira que sempre trazia pirulitos, o jogo de adivinhações antes da hora do lanche, o momento em que ele conseguia colocar uma almofada sobre a cabeça e fingir que estava numa caverna secreta. E em cada uma dessas pequenas aventuras, eu via nele o mesmo brilho que sentira naquele caderno da minha infância.

Ao fim da estadia, ele agarrou o caderno e disse: “Mãe, eu não quero que isto acabe. Vou continuar a escrever todos os dias!” Senti uma emoção quase impossível de descrever. Um caderno com quase trinta anos de diferença, repleto de memórias de dias em que tivemos de parar, tornava-se novamente um canal de imaginação, um porto seguro de criatividade e alegria.

E naquele hospital, entre paredes brancas e monitores discretos, aprendemos que não importa a razão pela qual estamos ali — com um pouco de imaginação e memórias do passado, podemos transformar dias aborrecidos em aventuras inesquecíveis.


Cadernos Cavallini

Os cadernos da Cavallini combinam qualidade, funcionalidade e design intemporal. Cada modelo traz à vida imagens coloridas retiradas dos arquivos da marca, ideais para registar viagens, ideias ou notas do dia a dia.

Os cadernos distinguem-se pela capa dura resistente, pelo design clássico e pelas suas 144 páginas pautadas de alta qualidade. Contam ainda com um prático bolso interior traseiro, perfeito para guardar papéis soltos ou lembretes. O fecho em elástico mantém o caderno seguro e protegido, enquanto as capas com ilustrações vintage acrescentam um toque de exclusividade e bom gosto.




8 de outubro de 2025
De repente, ela ergueu a caneca e riu-se: — Olha, eu sei que não se brinda com canecas... — Mas hoje é exceção! — interrompi, levantando também a minha. Tocámos as canecas com um pequeno tilintar, cúmplices, a rir como duas miúdas. — Ao novo capítulo — disse ela.
24 de setembro de 2025
Era como se aquele simples póster fosse uma ponte para o meu passado, para a criança que eu fora, cheia de curiosidade e entusiasmo, sem preocupações para além do recreio e da próxima história que a professora ia ler-nos em voz alta. Pedi à professora para tirarmos uma fotografia juntas, ali mesmo, ao lado do póster.
17 de setembro de 2025
No dia seguinte, depois do trabalho, passei por uma pequena loja de antiguidades no centro da cidade. Entre móveis gastos e livros empoeirados, encontrei o que me pareceu um tesouro: um puzzle vintage do esqueleto humano.. Senti que aquilo podia ser a chave.
10 de setembro de 2025
O nosso primeiro beijo nasceu ali, na cozinha, entre o aroma de vinho branco a evaporar na frigideira, o tilintar distante de uma colher esquecida no balcão, e um avental com cogumelos que parecia ter sido feito de propósito para aquele momento. Foi doce, inesperado e absolutamente inevitável.
3 de setembro de 2025
Ainda hoje guardo aquela caixa metálica, cheia de lápis bonitos, não só como recordação de um objeto útil, mas como símbolo do início de uma nova fase da minha vida.
27 de agosto de 2025
Anos mais tarde, caminhando pela cidade, passei por uma loja vintage e, por acaso, reparei numa toalha na montra, era igual à da Mariana, o que me fez lembrar imediatamente daquela tarde de despedida. Todas as memórias vieram à tona, como se nunca tivessem partido.
20 de agosto de 2025
Continuei a minha viagem. Visitei cidades com nomes que nunca tinha ouvido, comi sozinha em esplanadas, andei perdida, dancei numa praça sem música, mergulhei num lago gelado, chorei sozinha num comboio e em cada lugar que me tocou, tirei da mochila um dos postais. Escrevi. Coisas pequenas.
13 de agosto de 2025
Hoje, o caderno da Matilde está guardado na minha mesa de cabeceira. Às vezes abro-o, quando me sinto longe de mim. Quando esqueço quem fui naquele verão. E cada vez que o leio, lembro-me: fomos felizes ali.
6 de agosto de 2025
E, às vezes, ainda volto a abrir a caixa onde guardei as notas aderentes daquele verão. Só para me lembrar do que sou e do que a minha mãe me ensinou, com um gesto simples e um coração cheio.
30 de julho de 2025
Quando me deitei, encontrei um postal debaixo da almofada. Era de um papel espesso, com um toque suave, como os de antigamente, com várias borboletas desenhadas em tons suaves de azul e dourado, quase a esvoaçar para fora da página. Tinha um aspeto antigo, mas lindíssimo, como se tivesse atravessado décadas só para me
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