Notas de amor próprio

Odiava fazer a mala para as férias. Toda a gente falava do verão como se fosse a melhor coisa do mundo — calor, praia, roupas leves — mas para mim, era o pior. Era a época em que o meu corpo deixava de poder esconder-se.

Tinha 15 anos e, por fora, parecia que estava tudo bem. Sorria nas fotos, dizia que estava cansada quando não queria ir à piscina, e encolhia os ombros sempre que a minha mãe perguntava se queria ir comprar roupa nova. “Tenho tudo o que preciso”, respondia. Mentira.

Na verdade, tinha vergonha. Das coxas, do rabo, da barriga que se dobrava quando me sentava. Olhava-me ao espelho e só via defeitos. Todas as outras raparigas pareciam tão leves, tão confortáveis na pele delas. Eu sentia-me... errada.

Na segunda noite das férias, num apartamento alugado perto da praia, a minha mãe chamou-me para ir dar um passeio com ela. Recusei. Disse que me doía a cabeça. Minutos depois, ela apareceu no meu quarto com um copo de água e sentou-se aos pés da cama.

— Queres falar? — perguntou, com aquela voz calma que ela usa quando percebe que estou a guardar tudo por dentro.

— Não há nada para dizer. Só... não me apetece andar por aí. Está tudo cheio de gente bonita, de raparigas com corpos incríveis. Eu nem consigo vestir um bikini sem me sentir... ridícula.

Ela ficou em silêncio uns segundos, depois sorriu, de forma triste mas terna.

— Sabes, quando tinha a tua idade, sentia o mesmo. Queria esconder-me dentro de t-shirts largas e evitar espelhos. Nunca achava que era “suficiente”. Nem bonita, nem magra, nem segura.

— Tu? Mas tu és linda, mãe...

— E tu também. Mesmo que ainda não consigas ver.

Não lhe respondi. Fiquei só a olhar para os lençóis, com um nó na garganta.

No dia seguinte, quando voltou do passeio matinal, entrou no quarto com uma caixa metálica na mão. Dentro tinha vários blocos de notas adesivas com flores desenhadas.

— Vi isto numa montra. Lembrei-me de ti. — Estendeu-mas. — São só notas adesivas, eu sei, mas às vezes, quando a cabeça nos repete tantas vezes uma mentira, o melhor é responder com um facto.

— Como assim?

— Sempre que te olhares ao espelho e ouvires aquela voz cá dentro a criticar-te, escreve o contrário. Escreve um elogio, uma qualidade, um gesto bonito que tenhas tido. O que tu quiseres, mas escreve e cola no espelho.

Olhei para as notas aderentes na mão. Pareceu-me parvo, no início. Mas naquela noite, depois de tomar banho, voltei a fitar-me no espelho da casa de banho, ainda com o cabelo molhado, enrolada na toalha. A voz apareceu: "Olha essas pernas... tão grossas." Suspirei. E lembrei-me do que a minha mãe disse.

Peguei num dos blocos, escrevi com a caneta dela:
 “As tuas pernas levam-te a todo o lado. Não tens de ter vergonha delas.”
Colei.

No dia seguinte, outro:
 “O teu sorriso é bonito. E é só teu.”

E depois:

“Tens uns olhos expressivos. Já reparaste?”
“És uma boa amiga.”
“Tens sentido de humor. E isso vale muito.”

No fim da semana, o espelho parecia um mural. Cada vez que a voz negativa surgia, eu tentava respondê-la com uma nota aderente. Nem sempre era fácil, às vezes nem me apetecia escrever nada. Outras vezes chorava depois de o fazer. Mas continuei.

No fim das férias, quando tirei as notas aderentes para guardar na mala, reparei: havia vinte e seis. Vinte e seis coisas boas sobre mim e escritas por mim. Algumas mais simples, outras mais sentidas.

Não fiquei curada, nem deixei de ter inseguranças, ainda tenho dias difíceis, mas aprendi a falar comigo de outra forma. A relativizar. A entender que, mesmo sem ser perfeita, há tanto em mim que merece ser visto com amor, com paciência.

E, às vezes, ainda volto a abrir a caixa onde guardei as notas aderentes daquele verão. Só para me lembrar do que sou e do que a minha mãe me ensinou, com um gesto simples e um coração cheio.

Notas Aderentes Cavallini – Beleza nos pequenos detalhes

Deixe um recado carinhoso, anote aquele pensamento importante ou marque a página do livro que o está a inspirar ,com as Notas Aderentes da Cavallini, até as tarefas mais simples ganham charme.

Elegantes e práticas, vêm embaladas numa lata vintage, que inclui 5 blocos diferentes de notas. São perfeitas para lembretes, listas ou marcadores de páginas, e tornam qualquer apontamento mais bonito e especial.

Porque até os pequenos gestos merecem um toque de beleza


30 de julho de 2025
Quando me deitei, encontrei um postal debaixo da almofada. Era de um papel espesso, com um toque suave, como os de antigamente, com várias borboletas desenhadas em tons suaves de azul e dourado, quase a esvoaçar para fora da página. Tinha um aspeto antigo, mas lindíssimo, como se tivesse atravessado décadas só para me
23 de julho de 2025
Desfez o laço com uma curiosidade quase infantil e retirou um tubo redondo. Quando viu o que era, os olhos brilharam: um puzzle vintage, com uma ilustração delicada de flores silvestres, tudo em tons suaves e ligeiramente desbotados, como se o tempo tivesse passado por ele devagarinho. “É maravilhoso,” murmurou.
16 de julho de 2025
— Preciso que vás a casa. À gaveta da minha mesinha de cabeceira, do lado direito. Está lá uma bolsinha de pano, antiga… tem uns beija-flores desenhados. Traz-ma amanhã, sim?
9 de julho de 2025
Aquela tote bag que ele tinha preparado com tanto cuidado, carregava muito mais do que comida ou toalhas. Carregava o carinho dele, a paciência, a vontade de me fazer lembrar que nem todos os dias maus duram para sempre.
2 de julho de 2025
Numa tarde quente, depois de mais um dia a tentar afastar os pensamentos dos exames, a minha mãe veio fazer-me companhia no jardim, trazendo duas canecas com chá frio e sentou-se ao meu lado. Ficámos ali, no silêncio que só o verão sabe dar, enquanto eu passava os dedos pelos desenhos impressos na cerâmica.
26 de junho de 2025
Não era um caderno qualquer, este parecia saído de outra época: tinha a capa dura em tons de azul escuro, com um mapa do sistema solar desenhado na mesma, onde dava para ver as constelações e os planetas na sua órbita.
18 de junho de 2025
Estava sozinho na sala, de joelhos no tapete, com o coração quente e um sorriso que não me largava o rosto. Tinha acabado de abrir o presente que me deram pelo aniversário: um poster vintage com ilustrações de dinossauros. Daqueles à moda antiga, com nomes científicos e poses majestosas. Era bonito — não só esteticamente, mas porque me trazia de volta a um tempo que parecia distante, quando eu próprio era criança e vivia obcecado com estes gigantes do passado.
11 de junho de 2025
Entrei pela porta da frente, e logo o fresco do interior me envolveu. Fui direta à estante baixa junto à lareira. E lá estava ele, de onde nunca saiu: o tubo do puzzle.
4 de junho de 2025
Coloquei o meu avental, gasto, mas cheio de história, aquele que me acompanha desde que comecei a aprender a cozinhar, e que carrega as marcas de tantas receitas e momentos felizes.
28 de maio de 2025
Colei a nota aderente com cuidado dentro do meu livro favorito na altura: A Sombra do Vento, do Zafón. Um livro que já tinha lido três vezes e que sabia que não ia reler tão cedo. Foi o esconderijo perfeito. E assim passou o tempo.
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