Uma caravana e um sonho!

Sempre dissemos que, quando acabássemos a licenciatura, iríamos fazer algo em grande, que nos lembrasse que antes da pressa da “vida adulta” havia vida simples, intensa, feita de estrada e liberdade. E fizemos. Uma viagem de um mês. Três amigas, uma caravana velha, alugada na internet, sem GPS incorporado e com mais quilómetros em cima do que memórias nossas. Batizámo-la de Dona Aurora.

Fomos eu, a Inês e a Matilde. Conhecemo-nos no primeiro dia de faculdade, sentadas na mesma fila, num auditório cheio de caras desconhecidas para as três. Começámos a falar por acaso, e nunca mais parámos. Passámos por tudo juntas, desde a praxe, a maratonas de estudo, desgostos que nos deixaram a chorar no chão da casa de banho, a noites que terminavam a comer fast-food no quarto. Tornámo-nos inseparáveis desde então.

Partimos numa manhã de julho. Estava um calor insuportável, e a Dona Aurora fez um barulho estranho logo ao sair do estacionamento. A Matilde, que tinha acabado de tirar a carta, ia ao volante com um ar concentrado e nervoso. A Inês punha música e fazia trocadilhos maus com os nomes das bandas. E eu filmava tudo, claro, para depois postar nas redes sociais.

Paramos numa bomba de gasolina à saída de Lisboa para comprar snacks e água. Do outro lado da rua chamou-nos à atenção uma papelaria, estilo antigo, cuja montra tinha vários artigos vintage expostos. Entramos para explorar e ao lado do balcão, estavam três mini cadernos com borboletas desenhadas, todos diferentes uns dos outros. A Matilde pegou neles com olhos a brilhar.

— E se levássemos para registarmos as cenas mais fixes da viagem? — disse, já meio convencida.

— Sim! Um para cada. Um verão, três perspetivas diferentes.

E assim foi. Cada uma com o seu caderno, o seu mundo, os seus olhos.

Nos primeiros dias, tudo parecia perfeito. Dormíamos mal, sim — o colchão da caravana parecia feito de esponja de lavar loiça — mas havia entusiasmo que chegava para tudo. Acordávamos com o sol a bater-nos na cara, tomávamos o pequeno-almoço sentadas no degrau da porta, com os pés na areia fria ou numa qualquer estrada poeirenta. Comíamos frutas frescas compradas nos mercados locais, ou atum enlatado direto da lata. Nada nos incomodava.

Claro que nem tudo foi cor-de-rosa. Houve uma noite em que choveu tanto que acordámos todas encharcadas porque o teto da caravana tinha uma infiltração. Noutra, o motor morreu no meio da serra da Estrela e esperámos três horas por um mecânico que nunca apareceu — fomos salvas por um casal de velhotes num jipe, que nos ofereceram água e pão com manteiga. Guardámos o papel com o número deles no caderno da Inês, com um coração desenhado ao lado.

Mas também houve noites de mergulhos à meia-noite, em praias quase desertas, com o riso a ecoar como se fossemos donas do mundo. Houve um pôr-do-sol visto de uma falésia algarvia, onde a Matilde chorou baixinho sem dizer porquê, e nós só ficámos ali, a abraçá-la em silêncio. Houve um bar numa vila onde dançámos com desconhecidos como se ninguém nos estivesse a ver. E houve uma noite especial em que vimos três estrelas cadentes seguidas, deitadas na estrada nacional 2, em silêncio absoluto, como se o universo estivesse a confirmar que estávamos exatamente onde devíamos estar.

Cada noite, uma reflexão para o caderno. Às vezes uma frase solta, às vezes um poema torto. Colámos folhas, bilhetes, autocolantes que apanhámos num mercado de rua, flores prensadas entre páginas. Escrevíamos o que sentíamos, o que não conseguíamos dizer umas às outras. Era mais fácil escrever.

No final da viagem, a Inês sugeriu que trocássemos os cadernos.

— Para levarmos um pedaço umas das outras connosco. Mas sob o ponto de vista de quem nos viu de fora.

Sem hesitar, trocámos. Eu recebi o da Matilde.

Li-o devagar, nos últimos quilómetros antes de chegarmos a casa. Entre piadas, desenhos toscos e listas de snacks preferidos, estavam pequenas confissões: "Hoje vi a Sofia chorar sem fazer barulho. A forma como ela disfarça parte-me o coração."

Numa página colada com fita cola dourada: "Nunca conheci ninguém como ela. Tão cheia de dúvidas e, mesmo assim, a primeira a lançar-se ao mar. Sofia tem medo, mas vai na mesma."

Hoje, o caderno da Matilde está guardado na minha mesa de cabeceira. Às vezes abro-o, quando me sinto longe de mim. Quando esqueço quem fui naquele verão. E cada vez que o leio, lembro-me: fomos felizes ali. Sem saber o que viria a seguir. Só com mapas mal desenhados, bolachas partidas no banco de trás e a certeza de que a amizade, quando é real, cabe em três cadernos e numa caravana a cair de podre — e ainda sobra espaço para mais.


Mini Cadernos Cavallini


Os Mini Cadernos da Cavallini & Co. são conjuntos encantadores de três cadernos, embalados com ilustrações vintage inspiradas nos arquivos históricos da marca. Cada conjunto inclui um caderno pautado, um de folhas lisas e um quadriculado, oferecendo versatilidade para diferentes tipos de utilização — desde anotações e listas até desenhos e esquemas. Com 96 páginas cada, estes cadernos combinam funcionalidade e estética, sendo ideais para quem gosta de levar um toque de charme e inspiração para o dia a dia. O seu formato compacto torna-os perfeitos para transportar facilmente na mala ou na mochila, mantendo o estilo vintage sempre à mão.

6 de agosto de 2025
E, às vezes, ainda volto a abrir a caixa onde guardei as notas aderentes daquele verão. Só para me lembrar do que sou e do que a minha mãe me ensinou, com um gesto simples e um coração cheio.
30 de julho de 2025
Quando me deitei, encontrei um postal debaixo da almofada. Era de um papel espesso, com um toque suave, como os de antigamente, com várias borboletas desenhadas em tons suaves de azul e dourado, quase a esvoaçar para fora da página. Tinha um aspeto antigo, mas lindíssimo, como se tivesse atravessado décadas só para me
23 de julho de 2025
Desfez o laço com uma curiosidade quase infantil e retirou um tubo redondo. Quando viu o que era, os olhos brilharam: um puzzle vintage, com uma ilustração delicada de flores silvestres, tudo em tons suaves e ligeiramente desbotados, como se o tempo tivesse passado por ele devagarinho. “É maravilhoso,” murmurou.
16 de julho de 2025
— Preciso que vás a casa. À gaveta da minha mesinha de cabeceira, do lado direito. Está lá uma bolsinha de pano, antiga… tem uns beija-flores desenhados. Traz-ma amanhã, sim?
9 de julho de 2025
Aquela tote bag que ele tinha preparado com tanto cuidado, carregava muito mais do que comida ou toalhas. Carregava o carinho dele, a paciência, a vontade de me fazer lembrar que nem todos os dias maus duram para sempre.
2 de julho de 2025
Numa tarde quente, depois de mais um dia a tentar afastar os pensamentos dos exames, a minha mãe veio fazer-me companhia no jardim, trazendo duas canecas com chá frio e sentou-se ao meu lado. Ficámos ali, no silêncio que só o verão sabe dar, enquanto eu passava os dedos pelos desenhos impressos na cerâmica.
26 de junho de 2025
Não era um caderno qualquer, este parecia saído de outra época: tinha a capa dura em tons de azul escuro, com um mapa do sistema solar desenhado na mesma, onde dava para ver as constelações e os planetas na sua órbita.
18 de junho de 2025
Estava sozinho na sala, de joelhos no tapete, com o coração quente e um sorriso que não me largava o rosto. Tinha acabado de abrir o presente que me deram pelo aniversário: um poster vintage com ilustrações de dinossauros. Daqueles à moda antiga, com nomes científicos e poses majestosas. Era bonito — não só esteticamente, mas porque me trazia de volta a um tempo que parecia distante, quando eu próprio era criança e vivia obcecado com estes gigantes do passado.
11 de junho de 2025
Entrei pela porta da frente, e logo o fresco do interior me envolveu. Fui direta à estante baixa junto à lareira. E lá estava ele, de onde nunca saiu: o tubo do puzzle.
4 de junho de 2025
Coloquei o meu avental, gasto, mas cheio de história, aquele que me acompanha desde que comecei a aprender a cozinhar, e que carrega as marcas de tantas receitas e momentos felizes.
Show More