Postais sem destino!

Sempre achei que me ia “encontrar” aos trinta. Não sei bem porquê. Talvez por causa das expectativas que vamos acumulando, daquelas ideias feitas de que aos trinta já temos a vida no lugar, uma carreira sólida, uma casa com plantas que sobrevivem, e talvez até alguém com quem partilhar os domingos.

Mas fiz trinta… e só sentia um vazio estranho. Tinha um trabalho estável, sim, um grupo de amigos bons, embora cada vez mais distantes, e uma sensação constante de que estava a viver no piloto automático, como se alguém tivesse carregado no “play” e eu simplesmente estivesse a seguir.

Foi numa dessas noites em que se fica deitada às escuras, a olhar para o teto e a pensar “é isto?”, que decidi: ia fazer a minha primeira viagem sozinha. Sem desculpas, sem planos complicados, sem ninguém a ditar os horários. Só eu, uma mochila e a vontade de voltar a sentir alguma coisa que fizesse sentido.

Escolhi uma cidade pequena no norte da Turquia — daquelas com ruelas estreitas, roupa a secar nas varandas e cafés onde o tempo parece andar mais devagar. Fiquei num hostel antigo, com janelas altas e cheiro a madeira. Gente de todo o lado, vozes diferentes, livros esquecidos nas prateleiras e uma energia leve, como se tudo fosse possível.

Na segunda noite, depois de um jantar simples e um passeio sem rumo, sentei-me na sala comum com um copo de vinho e um livro aberto que eu não estava, de todo, a ler. Foi aí que apareceu o Leon. Tinha um olhar sereno e um ar de quem já tinha andado muito mundo.

— Também estás a fingir que lês só para parecer ocupada? — perguntou, a sorrir.

Rimo-nos. E assim começou. Uma daquelas conversas que não têm princípio nem fim. Falámos sobre tudo, sobre as voltas da vida, sobre o medo de estagnar, sobre coisas pequenas e outras que nem sabíamos guardar dentro de nós. Ele contou-me que estava a viajar há meses, a desenhar e a tentar redescobrir o seu traço. Mostrou-me um caderno cheio de esboços, paisagens, pessoas, instantes capturados à pressa.

— E tu? — perguntou-me. — A fugir de quê?

— De mim. Ou à procura. Ainda não percebi.

Ele não respondeu. Apenas assentiu com a cabeça, como quem entende sem precisar de mais palavras.

Na manhã seguinte, tomámos café juntos. O hostel ainda dormia. Sabíamos que os nossos caminhos iam seguir rumos diferentes, ele ia para o sul, eu para o leste. Direções opostas.

Foi então que ele tirou da mochila uma lata vintage lindíssima, com flores pintadas e um ar antigo, quase romântico. Abriu-a com cuidado e mostrou-me vários postais antigos, com ilustrações delicadas de flores silvestres.

— Escolhe três — disse-me. — Quero que me escrevas um postal de cada lugar que te fizer sentir alguma coisa especial. Só isso. Não precisa de ser bonito. Só verdadeiro.

Anotou a morada num papel, entregou-me os postais e abraçou-me. Um daqueles abraços demorados, silenciosos, que ficam gravados.

E partiu.

Continuei a minha viagem. Visitei cidades com nomes que nunca tinha ouvido, comi sozinha em esplanadas, andei perdida, dancei numa praça sem música, mergulhei num lago gelado, chorei sozinha num comboio e em cada lugar que me tocou, tirei da mochila um dos postais.

Escrevi. Coisas pequenas. Um cheiro, uma conversa, um momento de paz. Enviei-os, sem esperar resposta.

Agora que estou de volta, não posso dizer que me encontrei por completo, mas encontrei partes de mim que andavam esquecidas e isso, talvez, seja o suficiente por agora.

E sei que, algures em França, alguém leu as palavras que eu nunca tinha tido coragem de dizer em voz alta.

Talvez um dia nos voltemos a cruzar ou talvez não, mas enquanto houver lugares por descobrir, e emoções por escrever, os postais continuam a viajar, tal como eu.


Postais Vintage Cavallini

Os Postais Vintage da Cavallini são uma forma encantadora de dar vida às palavras e à criatividade. Cada conjunto vem acondicionado numa lata belíssima, repleta do charme nostálgico que caracteriza a marca, e inclui 18 postais distintos, impressos em papel creme de alta qualidade.

Com ilustrações deslumbrantes retiradas dos arquivos exclusivos da Cavallini, estes postais são perfeitos para escrever mensagens especiais, oferecer a alguém querido, ou até para dar um toque artístico à decoração — seja através de colagens criativas, seja emoldurados como peças únicas.

Mais do que simples postais, são pequenos tesouros visuais que combinam beleza, história e versatilidade, ideais para quem aprecia o detalhe e a inspiração em cada gesto.


10 de setembro de 2025
O nosso primeiro beijo nasceu ali, na cozinha, entre o aroma de vinho branco a evaporar na frigideira, o tilintar distante de uma colher esquecida no balcão, e um avental com cogumelos que parecia ter sido feito de propósito para aquele momento. Foi doce, inesperado e absolutamente inevitável.
3 de setembro de 2025
Ainda hoje guardo aquela caixa metálica, cheia de lápis bonitos, não só como recordação de um objeto útil, mas como símbolo do início de uma nova fase da minha vida.
27 de agosto de 2025
Anos mais tarde, caminhando pela cidade, passei por uma loja vintage e, por acaso, reparei numa toalha na montra, era igual à da Mariana, o que me fez lembrar imediatamente daquela tarde de despedida. Todas as memórias vieram à tona, como se nunca tivessem partido.
13 de agosto de 2025
Hoje, o caderno da Matilde está guardado na minha mesa de cabeceira. Às vezes abro-o, quando me sinto longe de mim. Quando esqueço quem fui naquele verão. E cada vez que o leio, lembro-me: fomos felizes ali.
6 de agosto de 2025
E, às vezes, ainda volto a abrir a caixa onde guardei as notas aderentes daquele verão. Só para me lembrar do que sou e do que a minha mãe me ensinou, com um gesto simples e um coração cheio.
30 de julho de 2025
Quando me deitei, encontrei um postal debaixo da almofada. Era de um papel espesso, com um toque suave, como os de antigamente, com várias borboletas desenhadas em tons suaves de azul e dourado, quase a esvoaçar para fora da página. Tinha um aspeto antigo, mas lindíssimo, como se tivesse atravessado décadas só para me
23 de julho de 2025
Desfez o laço com uma curiosidade quase infantil e retirou um tubo redondo. Quando viu o que era, os olhos brilharam: um puzzle vintage, com uma ilustração delicada de flores silvestres, tudo em tons suaves e ligeiramente desbotados, como se o tempo tivesse passado por ele devagarinho. “É maravilhoso,” murmurou.
16 de julho de 2025
— Preciso que vás a casa. À gaveta da minha mesinha de cabeceira, do lado direito. Está lá uma bolsinha de pano, antiga… tem uns beija-flores desenhados. Traz-ma amanhã, sim?
9 de julho de 2025
Aquela tote bag que ele tinha preparado com tanto cuidado, carregava muito mais do que comida ou toalhas. Carregava o carinho dele, a paciência, a vontade de me fazer lembrar que nem todos os dias maus duram para sempre.
2 de julho de 2025
Numa tarde quente, depois de mais um dia a tentar afastar os pensamentos dos exames, a minha mãe veio fazer-me companhia no jardim, trazendo duas canecas com chá frio e sentou-se ao meu lado. Ficámos ali, no silêncio que só o verão sabe dar, enquanto eu passava os dedos pelos desenhos impressos na cerâmica.
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