O conforto de uma amiga antiga!


Já lá iam quase três anos desde a última vez que estivemos frente a frente. A vida, com os seus caminhos tortuosos e compromissos inadiáveis, foi-se atravessando entre nós como quem vai empilhando livros numa prateleira, com cuidado, mas sem se aperceber do peso acumulado. Por isso, quando a Ana me disse que tinha finalmente comprado casa, senti uma alegria quase infantil, como se, de repente, me tivesse sido dada uma oportunidade de resgatar algo que deixámos em pausa há demasiado tempo.

Fui ter com ela numa tarde de sábado, a luz a esgueirar-se preguiçosamente pelas ruas estreitas do bairro novo onde se instalara. Era um terceiro andar sem elevador, o que ela encarou com um encolher de ombros e um “bom para o glúteo” entre risos. Abriu-me a porta com aquele sorriso que eu conhecia tão bem, ainda o mesmo, mas agora com um cansaço bonito, talvez amadurecido por anos de vida vivida.

“Bem-vinda ao meu pequeno caos em construção!” — disse, enquanto me puxava para dentro de um hall que cheirava a tinta fresca. A casa era simples, cheia de promessas por cumprir: quadros ainda encostados às paredes, caixas meio abertas, plantas a tentar encontrar o seu lugar. Mas tinha luz. Muita luz. E um silêncio bom.

“Trouxe-te um presente,” disse eu, estendendo-lhe o embrulho forrado a papel kraft e atado com um cordel.

Desfez o laço com uma curiosidade quase infantil e retirou um tubo redondo. Quando viu o que era, os olhos brilharam: um puzzle vintage, com uma ilustração delicada de flores silvestres, tudo em tons suaves e ligeiramente desbotados, como se o tempo tivesse passado por ele devagarinho.

“É maravilhoso,” murmurou. “Conheces-me tão bem, sabes que adoro puzzles! Apetece-me começar já.” E foi isso mesmo que fizemos.

Espalhámos as peças na mesa da sala, que ainda não tinha toalha nem marcas de café — uma tela em branco onde começámos a reconstruir não só a imagem do puzzle, mas também a nossa amizade. A Ana trouxe chá de jasmim e bolachas de chocolate, e sentámo-nos lado a lado, as pernas cruzadas no chão, como adolescentes à procura de sentido nos recortes de um mundo fragmentado.

“Então, conta-me tudo,” disse ela, os dedos a rodar distraidamente uma peça azul. “Como é que vai a vida?”

Eu contei-lhe das mudanças no trabalho, do amor que veio e foi, dos dias bons e dos dias que doeram. Ela ouvia com atenção e interjeições doces, como quem lê um livro que já conhece, mas quer reler.

Depois foi a vez dela. Falou-me do pai, que adoeceu, da decisão de comprar aquela casa sozinha, do medo que sentiu ao assinar os papéis. Da liberdade que também encontrou. Entre uma peça e outra, as confissões iam-se encaixando como se sempre estivessem destinadas a esse momento.

“Sabes,” disse ela, já com mais de metade do puzzle montado, “isto faz-me pensar que talvez o segredo seja mesmo este: aceitar que nem sempre vemos a imagem completa, mas continuamos, peça a peça, com esperança de que um dia tudo faça sentido.”

Olhei para ela e sorri. E naquele instante, com as flores quase todas formadas à nossa frente, percebi que, independentemente do tempo que passasse, havia coisas que nunca mudariam. Como o conforto de uma amiga antiga, a partilha de silêncios bons, e a beleza de um puzzle que se monta devagar, com amor e chá quente.


Puzzles 1000 peças Cavallini

Os puzzles de 1000 peças da Cavallini vão muito além do entretenimento, são verdadeiras obras de arte vintage que encantam pelo cuidado dos seus detalhes e pela riqueza das ilustrações clássicas. Cada puzzle, com temas que vão desde plantas e animais até mapas antigos e desenhos culturais, oferece uma experiência relaxante e criativa, perfeita para momentos de lazer, mas também para quem aprecia peças com significado e beleza.

Depois de montados, estes puzzles transformam-se em elementos decorativos únicos, capazes de dar personalidade a qualquer ambiente. Produzidos com materiais de alta qualidade, as peças encaixam suavemente, e o resultado final pode ser emoldurado, criando um toque nostálgico e elegante a salas de estar, cozinhas, escritórios ou quartos. Além disso, a apresentação cuidadosa, em tubos compactos e acompanhada por guias e sacos de musselina, torna-os um presente especial para colecionadores e amantes da estética vintage.



10 de setembro de 2025
O nosso primeiro beijo nasceu ali, na cozinha, entre o aroma de vinho branco a evaporar na frigideira, o tilintar distante de uma colher esquecida no balcão, e um avental com cogumelos que parecia ter sido feito de propósito para aquele momento. Foi doce, inesperado e absolutamente inevitável.
3 de setembro de 2025
Ainda hoje guardo aquela caixa metálica, cheia de lápis bonitos, não só como recordação de um objeto útil, mas como símbolo do início de uma nova fase da minha vida.
27 de agosto de 2025
Anos mais tarde, caminhando pela cidade, passei por uma loja vintage e, por acaso, reparei numa toalha na montra, era igual à da Mariana, o que me fez lembrar imediatamente daquela tarde de despedida. Todas as memórias vieram à tona, como se nunca tivessem partido.
20 de agosto de 2025
Continuei a minha viagem. Visitei cidades com nomes que nunca tinha ouvido, comi sozinha em esplanadas, andei perdida, dancei numa praça sem música, mergulhei num lago gelado, chorei sozinha num comboio e em cada lugar que me tocou, tirei da mochila um dos postais. Escrevi. Coisas pequenas.
13 de agosto de 2025
Hoje, o caderno da Matilde está guardado na minha mesa de cabeceira. Às vezes abro-o, quando me sinto longe de mim. Quando esqueço quem fui naquele verão. E cada vez que o leio, lembro-me: fomos felizes ali.
6 de agosto de 2025
E, às vezes, ainda volto a abrir a caixa onde guardei as notas aderentes daquele verão. Só para me lembrar do que sou e do que a minha mãe me ensinou, com um gesto simples e um coração cheio.
30 de julho de 2025
Quando me deitei, encontrei um postal debaixo da almofada. Era de um papel espesso, com um toque suave, como os de antigamente, com várias borboletas desenhadas em tons suaves de azul e dourado, quase a esvoaçar para fora da página. Tinha um aspeto antigo, mas lindíssimo, como se tivesse atravessado décadas só para me
16 de julho de 2025
— Preciso que vás a casa. À gaveta da minha mesinha de cabeceira, do lado direito. Está lá uma bolsinha de pano, antiga… tem uns beija-flores desenhados. Traz-ma amanhã, sim?
9 de julho de 2025
Aquela tote bag que ele tinha preparado com tanto cuidado, carregava muito mais do que comida ou toalhas. Carregava o carinho dele, a paciência, a vontade de me fazer lembrar que nem todos os dias maus duram para sempre.
2 de julho de 2025
Numa tarde quente, depois de mais um dia a tentar afastar os pensamentos dos exames, a minha mãe veio fazer-me companhia no jardim, trazendo duas canecas com chá frio e sentou-se ao meu lado. Ficámos ali, no silêncio que só o verão sabe dar, enquanto eu passava os dedos pelos desenhos impressos na cerâmica.
Show More